A oposição venezuelana mobilizou seus partidários, neste sábado, para exigir a renúncia do presidente Nicolás Maduro, no início de uma estratégia de pressão nas ruas. O objetivo é impulsionar as fórmulas legais para conseguir a saída antecipada do presidente.
Como contrapartida ao movimento da oposição, Maduro também liderou uma concentração em Caracas para rejeitar o fato de os Estados Unidos terem renovado um decreto que considera a Venezuela uma ameaça "incomum e extraordinária" à sua segurança.
"É uma loucura o que vocês têm: ;vamos contra Maduro, com isso, com aquilo;. Façam o que lhes dá vontade. Eu estou aqui é para lutar. E Maduro estará aqui até o último dia deixado por Hugo Chávez", proclamou o presidente, diante da multidão de chavistas concentrada no centro de Caracas.
Sob o lema "Vamos com Tudo", a coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) - que controla o Parlamento - convocou os partidários a marcharem em 15 dos 23 estados, além de Caracas, onde as duas mobilizações irão acontecer em pontos distantes.
Desafios
O presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, encerrou a mobilização da oposição com um discurso desafiador. Segundo ele, o Parlamento entrará, neste domingo, em "debate permanente" para discutir a prorrogação do decreto de emergência econômica solicitado por Maduro na sexta-feira. Este decreto chegou a ser vetado pelo Legislativo e entrou em vigor, graças ao apoio do Poder Judiciário.
Aos gritos de "Renúncia, renúncia", milhares de simpatizantes opositores se concentraram em um rua do município Chacao, ao leste de Caracas, enquanto outros milhares de chavistas marchavam pelo centro da capital, com as palavras de ordem "Maduro, fique" e "Yankees, go home".
Na última quarta-feira, a MUD revelou sua estratégia para alcançar este objetivo por vias paralelas: um referendo revogatório e uma emenda para encurtar o mandato de Maduro (2013-2019), além de manifestações para pressionar por sua renúncia.
Em resposta aos que criticam a MUD por não se decidir por uma única alternativa, Ramos explicou que "todos os mecanismos estão em risco". Por isso, completou, decidiu-se "promovê-los todos ao mesmo tempo".
"Vocês não saem de Maduro, porque Maduro não é Maduro, Maduro é povo e é revolução! Que parte disto não entenderam? ", criticou o chefe de Estado, que enfrenta uma grave crise econômica, que pulveriza sua popularidade.
Inflação
Dona da maior reserva de petróleo do planeta, a Venezuela apresenta a inflação mais alta do mundo - de 180,9% em 2015 - e uma escassez de alimentos e remédios que preocupa a população, em parte devido à queda dos preços do petróleo, embora a oposição responsabilize o governo Maduro.
Ninguém se rende
Usando o slogan de uma campanha lançada recentemente e que é vista como resposta aos planos da oposição para tirá-lo do poder, o presidente convocou a população a dizer ao mundo que, na Venezuela, "ninguém se rende".
"Chamo o povo da Venezuela a que saiamos neste sábado em uma grande passeata anti-imperialista para dizer não ao decreto de Obama (...) e para dizer ao mundo que a Venezuela, pátria de Bolívar, não se rende", exortou.
"#ObamaLaAmenazaEresTu, e os milhares de mortos e afetados por suas guerras em todo o mundo assim ratificam", proclamou o chavismo nas redes sociais.
Juristas como José Ignacio Hernández assinalam que todas as opções para a saída do presidente terão de passar pelo filtro do Superior Tribunal de Justiça (TSJ), acusado pela oposição de ser o "escritório jurídico" do chavismo.
Na semana passada, este tribunal eliminou faculdades de controle do Parlamento, cujo controle foi perdido pelo oficialismo após 17 anos de hegemonia, gerando uma crise institucional de choque de poderes.
O TSJ reduziu drasticamente os poderes do Legislativo, eliminando a possibilidade de supervisionar os atos dos Poderes Judiciário, Eleitoral, Cidadão e dos Comandos Militares.
A corte "não apenas viola grosseiramente a Constituição, mas também o faz de forma covarde", criticou neste sábado no Twitter o líder Ramos Allup, antes da passeata.
Bloqueio
Esta decisão aumentou o temor de que a corte bloqueie, eventualmente, a emenda para reduzir o mandato para quatro anos e até mesmo o referendo, cuja realização, se o processo administrativo começasse agora, aconteceria em meados de novembro, estima o especialista em temas eleitorais Eugenio Martínez.
Sua organização está a cargo do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), também acusado de servir aos interesses do governo.
Na última quinta-feira, no primeiro de dois debates parlamentares, a maioria opositora aprovou uma lei de referendos para agilizar e flexibilizar sua realização.
"O que não pode fazer o governo, nem o TSJ, nem o CNE, é mudar uma realidade: a de que a maioria da população quer mudanças, não é chavista, e que, frente a um processo eleitoral, a oposição venceria", declarou à AFP o analista Luis Vicente León.