Havana, Cuba - Poucas horas antes da chegada do presidente Barack Obama em Havana, dezenas de ativistas liderados pelas Damas de Branco que protestavam contra o governo comunista foram detidos por várias horas.
[SAIBAMAIS]Ao fim da marcha que as Damas de Branco costumam fazer aos domingos na capital cubana, e que dessa vez contou com a participação de outros opositores, grupos do governo encurralaram os manifestantes.
Quase no mesmo momento a polícia apareceu. As Damas de Branco e os ativistas da dissidência foram levados à força em direção aos ônibus em meio a gritos de "gusanos" (anticastristas) vindos de apoiadores do governo. Danilo Maldonado e Berta Soler, líder das Damas de Branco, estavam entre os detidos. Maldonado, Soler e seu marido, o ex-preso político Angel Moya, foram liberados poucas horas mais tarde, confirmou a própria ativista em uma conversa por telefone com a AFP. No entanto, ela afirmou que vários dissidentes permaneciam detidos.
"Obama está sendo cúmplice de um governo, de uma ditadura", disse Maldonado à AFP uma hora antes de ser detido. A Polícia cubana, que não interrompeu o protesto das Damas de Branco, usou a força para conduzir vários homens aos ônibus. Pelo menos dois deles foram postos contra uma cerca e algemados. Com a chegada da polícia, as mulheres se sentaram no chão para tentar evitar as detenções, em meio aos gritos dos manifestantes favoráveis ao governo, que as chamavam de "mercenárias" e "gusanas" (anticastristas). Dos ônibus, os opositores pediram por "liberdade".
Críticas a Obama
As Damas de Branco se concentraram no Parque Mahatma Gandhi da Quinta Avenida de Havana, próximo à igreja de Santa Rita, para repudiar o governo comunista antes de assistir à missa e marchar em silêncio.
Jornalistas de várias partes do mundo que estão em Havana por causa da visita de Obama acompanharam a manifestação, repleta de críticas ao presidente dos Estados Unidos por sua suposta condescendência com o governo de Raúl Castro.
"Obama chegou em um momento em que não deveria ter vindo", disse Soler à AFP. Dirigindo-se ao presidente, acrescentou: "Você disse que viria se houvesse avanços em direitos humanos, e isso não aconteceu". Em uma carta dirigida há oito dias a Damas de Branco, organização criada pelas esposas dos presos políticos e considerada ilegal em Cuba, Obama prometeu que trataria diretamente com Castro os "obstáculos" aos direitos humanos na ilha.
Entre outras atividades que marcarão a volta de um presidente dos EUA à ilha depois de 88 anos, Obama prevê reunir-se com dissidentes e fazer um discurso ao povo cubano, que será transmitido ao vivo pela televisão. Cuba, que nega ter presos políticos e atribui as detenções a infrações do direito penal, antecipou que não negociará com os Estados Unidos qualquer mudança em sua política como consequência da visita de Obama.
Muito crítica ao presidente americano, Soler disse acreditar que Obama "exija que o governo cesse a violência e dê anistia aos presos políticos". A ativista, que está entre os convidados para reunir-se com Obama, pediu também para que os EUA condicione qualquer "negócio" em Cuba em relação aos direitos humanos.