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Exilados não acreditam que visita de Obama promova melhorias em Cuba

Cubanos que foram obrigados a trocar a ilha socialista pelos EUA têm poucas esperanças de que o evento histórico melhore a vida dos cidadãos

Rodrigo Craveiro
postado em 21/03/2016 08:01
;Quando eu saí de Cuba/Deixei minha vida, deixei meu amor/Quando eu saí de Cuba/Deixei meu coração enterrado.; O compositor argentino Luis Aguilé (1936-2009) transformou em canção o sentimento da maior parte dos 650 mil exilados cubanos que vivem no sul da Flórida, a cerca de 150km da ilha socialista. Muitos deles tiveram que abandonar a terra natal quando crianças; outros fugiram depois de se tornarem prisioneiros políticos. O Correio entrevistou quatro expoentes do exílio nos Estados Unidos sobre a histórica viagem de Barack Obama a Cuba, iniciada na noite de ontem ; a primeira de um presidente norte-americano desde 1928. Eles compartilham da pouca esperança, da indignação e de um certo ceticismo ante a visita de Obama e afirmam esperar que o visitante exija do regime de Raúl Castro o respeito aos direitos humanos.

Em Havana, clima amistoso e boas-vindas ao presidente americano. Na Flórida, descrença nos resultados

[SAIBAMAIS]Pedro Corzo, 73 anos, trocou Havana por Miami em 1992. ;Estive na prisão por oito anos. Quando fui detido, em 1964, eu ainda era um estudante. As condições no cárcere eram desumanas. Fomos submetidos a um regime de trabalho forçado que flutuava entre 12 e 14 horas. Além de espancados com frequência, a reclusão na cela solitária era prática comum. Mais de 10 colegas morreram durante greves de fome;, lembra o jornalista, escritor e cineasta, presidente do Instituto de la Memoria Historica Cubana contra el Totalitarismo.

;Eu considero que a visita de Obama não vai repercutir, de modo importante, no desenvolvimento econômico e político de Cuba. Ela responde somente a critérios e a interesses do presidente norte-americano. Eu diria que é como parte de seu legado presidencial;, observa Corzo. Apesar de acreditar que o tema ;direitos humanos; constará da agenda dos líderes cubano e norte-americano, o jornalista aposta em cautela do regime de Havana. ;Talvez Obama aborde, em privado, a situação política de Cuba. No entanto, eu considero que eles serão muito cautelosos, pois já afirmaram, em mais de uma ocasião, que a aproximação com o governo de Cuba será um processo a longo prazo.;



Distorção
Presidente do Movimiento Democracia, sediado em Miami, Ramón Saúl Sánchez deixou Cuba aos 13 anos e se incorporou à luta pela democracia na ilha dois anos depois. A organização não governamental que dirige propõe a luta cívica não violenta e defende a reunificação da família cubana. ;É bom quando dois países se fazem amigos, sob o ponto de vista humano. No entanto, os EUA modificaram o viés político da visita, ao pedirem o fim do embargo comercial a Cuba; isso ajudou a ditadura a se apresentar como vítima do imperialismo ianque;, opina. Para o ativista exilado, além de demandar a suspensão do embargo, Obama deveria solicitar o levantamento do bloqueio às liberdades civis e econômicas. ;O regime impede que o povo se empodere economicamente e possa se tornar independente do Estado castrista. É um Estado explorador de homens;, lamenta.

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