Agência France-Presse
postado em 23/03/2016 12:53
O ex-pré-candidato republicano Jeb Bush anunciou nesta quarta-feira o apoio à campanha do senador ultraconservador Ted Cruz à Casa Branca, em um novo golpe para Donald Trump, que no entanto consolidou sua posição após as primárias de terça-feira. A vitória do polêmico bilionário na primária republicana de Arizona se viu ofuscada pelo resultado em Utah, onde Cruz venceu com mais de 50% dos votos, enquanto Trump ficou em terceiro lugar, atrás do governador de Ohio, John Kasich.
As farpas na disputa interna do Partido Republicano se tornaram ainda mais evidentes nesta quarta-feira, depois que Bush (filho e irmão de ex-presidentes) expressou apoio a Cruz em nome da "unidade" partidária. "Pelo bem de nosso partido e de nosso país, devemos superar a vulgaridade e as divisões que Donald Trump provoca na arena política ou certamente perderemos a oportunidade de derrotar a indicada democrata, que provavelmente será Hillary Clinton", afirma Bush em um comunicado.
Considerado até ano passado a grande esperança republicana para a Casa Branca, Jeb Bush não conseguiu fazer sua campanha decolar e atirou a toalha no mês passado, sem em nenhum momento alcançar 10% das intenções de voto.
Aumento da tensão
A tensão aumentou ainda mais depois que um grupo republicano contrário ao polêmico magnata divulgou na rede social Twitter uma foto de sua esposa, a ex-modelo Melania Trump, posando sem roupas, junto a uma mensagem com pedidos de voto em Cruz. Como é habitual, Trump usou a mesma rede para criticar Ted Cruz e ameaçar com indiscrições sobre a esposa do senador, Heidi. "A foto da sua esposa não é nossa responsabilidade. Donald, se atacar Heidi, você é mais covarde do que eu pensava", respondeu Cruz também no Twitter.
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Em uma entrevista ao canal NBC, Cruz disse que quando Trump "está infeliz, ou tem medo, reage assim. Grita, geralmente insulta. Ameaça pessoas. É um bully". Apesar da clara vitória no Arizona, a contundente derrota sofrida em Utah deixou claro que Trump não terá vida fácil para obter o número necessário de delegados para selar a indicação antes da convenção partidária, prevista para julho em Cleveland.
Ao ter que dividir os votos nas primárias com Cruz e Kasich, cada dia fica mais evidente que Trump não conseguirá evitar uma negociação na convenção do Partido Republicano, cuja direção não esconde o interesse em afundar a candidatura do magnata em favor de uma figura de consenso.
Depois da vitória em Ohio de Kasich, muitos imaginaram que este conservador moderado poderia encarnar a figura capaz de conter Trump, mas o apoio de Bush pode virar a tendência a favor de Cruz. No domingo, Kasich afirmou à imprensa que "ninguém, ninguém irá a esta convenção com delegados suficientes".
Trump chegou às primárias de terça-feira depois de advertir o Partido Republicano sobre eventuais "distúrbios" no caso da convenção partidária não reconhecer a liderança que conseguiu construir após o lançamento de sua campanha em junho do ano passado. De fato, o empresário de Nova York lidera com boa margem a disputa republicana e se aproxima dos 1.237 delegados necessários para obter a nomeação do partido: acumula 744, segundo a CNN. Cruz tem 461 e Kasich apenas 145.
Diferença difícil de superar
Entre os democratas, Hillary Clinton conseguiu na terça-feira uma vitória clara no Arizona, mas o senador Bernie Sanders venceu com facilidade nos estados de Utah e Idaho. Sanders comemorou o "tremendo" desempenho e afirmou que "estas vitórias decisivas em Idaho e Utah dão confiança de que seguiremos obtendo importantes vitórias nas próximas disputas".
Mas os triunfos de Sanders, os primeiros do pré-candidato em duas semanas, podem ter pouca utilidade na longa disputa pela indicação partidária. Como o Partido Democrata distribui os delegados de forma proporcional, a importante vantagem de Clinton significa que mesmo perdendo um estado ela continua acumulando delegados. Desta forma consegue manter a diferença a seu favor para a convenção da Filadélfia.
Após a terça-feira, Hillary Clinton tem mais de 1.700 delegados, contra 930 de Sanders, incluindo os superdelegados, segundo as estimativas da CNN. Um pré-candidato precisa de 2.383 delegados para conquistar a candidatura democrata. Desta maneira, Sanders precisa manter ou melhorar o ritmo de terça-feira no restante das primária, que prosseguem até junho, se deseja obter a nomeação do Partido Democrata.
Por esta razão, diversas vozes dentro do partido consideram que a campanha de Sanders não terá condições de derrotar Clinton, mas pode fragilizar a ex-secretária de Estado para a disputa final contra o eventual candidato republicano. "Ele deveria olhar os números e tirar suas conclusões", disse na terça-feira a senadora democrata Barbara Mikulski, que apoia Hillary.