"Já condenamos o bastante, agora é preciso agir". Os muçulmanos reunidos na Grande Mesquita de Bruxelas para a tradicional oração semanal, a primeira desde os atentados, enviaram nesta sexta-feira uma mensagem de paz e prometeram combater a radicalização.
"Hoje mesmo lançamos um programa contra a radicalização, sobretudo a dos jovens. Temos que tentar nos aproximar da população", diz Ndiaye Mouhameth Galaye, um dos imames da mesquita.
"Dos 400 ou 500 jovens que foram à Síria, não há um que tenha estudado aqui", afirma com contundência este senegalês radicado em Bruxelas, em alusão ao número estimado de belgas que estão fazendo a guerra santa no exterior.
[SAIBAMAIS]No entanto, ele é consciente dos limites de seu programa, que consiste de cursos específicos para os jovens, e destaca seu trabalho de assessoramento aos pais que descobrem que os filhos estão se radicalizando.
"Alguns pais acordam um dia e descobrem que seu filho se nega a lhes dar bom dia, os criticam por não comer halal e começa a mudar os costumes. E, então, o pai, preocupado, vem nos ver", diz o imame que garante ter evitado que vários jovens fossem para a Síria.
O grande edifício da mesquita, financiado pela organização internacional Liga Mundial Islâmica ("a Arábia Saudita não nos financia", afirma o imame), está situado em um parque do bairro das instituições europeias, a dez minutos da estação de metrô de Molenbeek, onde na terça-feira um suicida se explodiu em nome do Islã.
Na entrada estão penduradas uma bandeira europeia e duas belgas e o painel eletrônico que normalmente serve para informar os fiéis, hoje diz: "Não à violência, não ao terrorismo".
É uma forma de os muçulmanos mandarem mensagem ao país e ao mundo e lutar contra o que consideram uma assimilação totalmente injusta entre o Islã e o terrorismo.
"Mancham o nome de Deus"
"Tem muita gente que mistura terrorismo, Islã e muçulmanos. Põem tudo no mesmo saco e é uma mentira", afirma, indignada, Dina Carballo El Assili, estudante de enfermagem de 19 anos que participa de uma oração. "Um terrorista que diz ;Allahu akbar; mancha o nome de Deus", declara, citando o Corão.
À frustração dos muçulmanos de serem apontados com o dedo se soma a realidade evidente de que os atentados não discriminam religiões.
Isto fica demonstrado na dramática morte de Loubna Lafquiri, uma belga muçulmana de 29 anos, professora e mãe de três filhas, cuja morte na explosão do metrô comoveu todo o país e se tornou símbolo do massacre.
"Eu poderia ter sido uma vítima, pego o mesmo metrô todo dia", diz o imame, enquanto chegam os fiéis, jovens, velhos e inclusive algumas crianças acompanhadas dos pais.
Em seguida, eles tiram os sapatos e se reúnem na grande sala ricamente adornada com uma grande lâmpada e decoração oriental. As mulheres acompanham à oração de um pequeno balcão.
Após a comoção provocada pelos atentados de terça-feira, muitos recusam a se resignar. "Nasci aqui, nunca tive nenhum problema com a Justiça", explica Ramon, um homem de 50 anos, orgulhoso de ser belga e muçulmano.
"Nós, muçulmanos, não temos porque nos justificar toda vez que algo acontece. Infelizmente, estes jovens brincam com o nome do Islã, mas são casos isolados", garante.
Quando a cerimônia acaba, na qual também intervém, em árabe, o segundo imame da mesquita, o tradicional ;Allahu akbar; (;Alá é grande;) se mistura a gritos de ;Viva a Bélgica;.
Depois, todos saem para o pequeno parque para fazer um minuto de silêncio, seguido de aplausos, em mais uma mensagem de paz que repetem sem cessar.