Htin Kyaw, colaborador próximo da histórica opositora Aung San Suu Kyi, tomou posse nesta quarta-feira (30/4) como novo presidente de Mianmar, o que abre uma nova era para o país depois de décadas de domínio militar.
"Prometo ser fiel ao povo da República Birmanesa", disse aos deputados Htin Kyaw, que chegou ao Parlamento ao lado de Suu Kyi, ambos vestidos com o tradicional longyi.
A ;Dama de Yangun;, cujo partido venceu as eleições de 8 de novembro, não pode ser presidente porque a Constituição impede. Mas depois do triunfo nas urnas, ela prometeu que estaria "acima do presidente", um papel que parece ter sido aceito por Htin Kyaw.
O novo presidente, de 69 anos, o primeiro civil no cargo em muitas décadas, é amigo de infância de Suu Kyi, de 70 anos, que estará à frente de um "superministério" que inclui, entre outros, o das Relações Exteriores.
Depois do juramento de Htin Kyaw, os novos ministros, incluindo Suu Kyi, a única mulher do governo, também prestaram juramento no Parlamento. A maioria tem mais de 60 anos.
Empossado, Htin Kyaw aludiu a fazer "uma reforma da Constituição, que levará a uma democracia plena", dando a entender que Aung San Suu Kyi poderá ser assim presidente dentro de cinco anos.
A posse acontece cinco meses depois das eleições, que terminaram com uma vitória esmagadora da Liga Nacional pela Democracia (NLD), o partido de Suu Kyi.
O resultado foi um voto contrário ao governo de transição formado por antigos militares, apesar das reformas políticas importantes dos últimos cinco anos.
O presidente que deixou o cargo nesta quarta-feira, Thein Sein, defensor das reformas, permaneceu ativo até o fim e nas últimas semanas visitou projetos iniciados durante seu mandato, com o objetivo de fortalecer sua presença nos meios de comunicação já pensando nas eleições de 2020.
Depois da posse no Parlamento, onde foi eleito presidente em 15 de março, Htin Kyaw visitou Thein Sein no palácio presidencial.
A cerimônia desta quarta-feira foi a última etapa de uma longa transição política iniciada com as eleições legislativas de novembro, as primeiras livres nos últimos 25 anos em Mianmar, que registraram um alto índice de participação dos birmaneses.
A União Europeia saudou a nova etapa na democracia birmanesa, mas recordouque "ainda persistem vários desafios", segundo palavras da chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.
Já o presidente Barack Obama classificou de "momento histórico" a posse de Kyaw e disse que espera poder colaborar com o novo governo birmanês que enfrenta "desafios importantes para poder avançar".
"Os Estados Unidos esperam ser amigos e sócios do novo governo e do povo de Mianmar em seus avanços para a construção de um futuro mais inclusivo, pacífico e próspero", afirmou.
- Grandes esperanças -
O novo governo civil desperta grandes esperanças no país pobre, onde um terço da população vive abaixo do limite da pobreza. O partido de Suu Kyi prometeu dar prioridade à educação e à saúde.
"O país está preparado e ansioso para a mudança", afirmou o analista político Khin Zaw Win, um ex-prisioneiro político e atualmente diretor do centro de análise Tampadipa. Ele destacou que novo governo estará sob pressão nos próximos cinco anos para realizar reformas de maneira rápida.
Outro tema importante é o que envolve os conflitos étnicos em várias regiões, com grupos armados que desejam mais autonomia e enfrentam as forças de do governo. Na região oeste, milhares de muçulmanos rohingyas vivem deslocados em campos de refugiados.
Aung San Suu Kyi e sua equipe também terão que administrar as complexas relações com o exército, que continua com muito poder político e dispõe de 25% dos deputados no Parlamento, atribuídos a militares não eleitos. O exército também controla os ministérios do Interior, Defesa e Fronteiras.
O comandante das Forças Armadas, general Min Aung Hlaing, compareceu nesta quarta-feira ao Parlamento para a posse do novo presidente.