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Governo colombiano e ELN iniciam processo para encerrar guerra

A mesa será montada no Equador, enquanto as sessões de diálogo serão celebradas também em Brasil, Venezuela, Chile e Cuba, que junto com a Noruega serão os "garantidores" do processo

Agência France-Presse
postado em 30/03/2016 17:34
O governo da Colômbia e a guerrilha do ELN anunciaram nesta quarta-feira, em Caracas, o início de um processo de paz, que se soma ao celebrado em Cuba com as Farc, para acabar com meio século de conflito armado no país.

As partes "concordaram em instalar uma mesa pública de diálogos para abordar os pontos estabelecidos na agenda, com a finalidade de subscrever um acordo final para pôr fim ao conflito armado e estabelecer transformações em busca de uma Colômbia em paz e equidade", destacou uma declaração lida pelos líderes das delegações: Frank Pearl, por parte do governo, e Antonio García, do ELN.

A mesa será montada no Equador, enquanto as sessões de diálogo serão celebradas também no Brasil, Venezuela, Chile e Cuba, que junto com a Noruega serão os "garantidores" do processo, acrescenta o acordo assinado por Pearl e García na Chancelaria venezuelana.

Em discurso em Bogotá, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, disse que as negociações começarão "assim que forem resolvidos temas humanitários, inclusive os sequestros", uma prática cujo fim exigia para iniciar a fase pública do processo.

Depois do anúncio, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, recebeu os negociadores no Palácio de Miraflores, sede da Presidência, onde afirmou que ele é "o maior aliado que o presidente Santos tem para chegar à paz".

"Não são caminhos fáceis, mas sabemos que só através da paz é possível construir o que se propuseram", disse Maduro aos delegados após mostrar-lhes uma espada do líder independentista Simón Bolívar.

O chanceler equatoriano, Guilaume Long, postou no Twitter que o Equador ajudará "em tudo o necessário", enquanto o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, expressou que é um passo "esperançoso" e ofereceu "todo o apoio" do organismo.

O governo Santos e o Exército de Libertação Nacional (ELN, guevarista) - segundo grupo rebelde colombiano depois das Farc - também combinaram que as conversas serão "diretas e ininterruptas" e que se executará a agenda de seis pontos com a maior celeridade e rigor.

Os temas são: participação da sociedade na construção da paz, democracia para a paz, transformações, vítimas, fim do conflito armado e implementação dos acordos.

Santos declarou que o processo de paz terá uma "natureza muito diferente" da que se celebra com as Farc porque são guerrilhas "muito diferentes".

Também indicou que a negociação com o ELN terá que se adaptar a organismos que o governo prevê criar depois da assinatura do acordo final com as Farc, como a Comissão da Verdade, o Tribunal para a Paz e o procedimento para o cessar-fogo e de hostilidades.

O começo das negociações entre o governo e o ELN foi anunciado após uma fase de diálogos exploratórios realizados entre janeiro de 2014 e março de 2016 no Brasil, Equador e Venezuela.

O processo se soma ao que avança há mais de três anos em Cuba com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, comunistas), o principal e mais antigo grupo insurgente do país.

As Farc elogiaram o início das negociações de paz em Caracas entre o governo e o ELN, denominando-o de "um momento histórico para a Colômbia".

"A delegação de Paz Farc-EP comemora o início da etapa pública de diálogos ELN-Governo pela paz da Colômbia", escreveu no Twitter o chefe negociador das Farc em Havana, Iván Márquez, ressaltando que "ELN e Farc-EP com o povo, juntos para a paz com justiça social: momento histórico para a Colômbia".

Uma "oportunidade"

"Um processo com o ELN significa que a Colômbia tem a oportunidade de encerrar completamente os 52 anos de conflito armado agora com os dois grupos guerrilheiros", disse à AFP Kyle Johnson, analista do International Crisis Group (ICG).

Agora que o governo e as Farc estão na reta final para alcançar um acordo de paz, "o ;pós-conflito; não seria completo em todas as regiões do país sem um processo de paz bem-sucedido com o ELN", acrescentou.

No entanto, o especialista alertou para os "desafios" tanto políticos, de prazos e simultaneidade com o processo com as Farc, quanto metodológicos, pelas próprias características do ELN como organização, que toma decisões por consenso.

Fundado em 1964 sob influência da revolução cubana e da Teologia da Libertação, o ELN tem atualmente 1.500 combatentes em suas fileiras, mas conta com uma ampla rede de apoio de milicianos e simpatizantes em todo o país, segundo fontes oficiais.

"O ELN é menos pragmático que as Farc e não funciona tanto quanto uma organização vertical, o que tornou mais complexa a negociação de um mapa do caminho", destacou uma fonte do governo.

A fase exploratória com o ELN, que avançou sem um cessar-fogo - ao qual Santos se opunha por considerar que poderia fortalecer o grupo rebelde - pareceu estagnada em fevereiro.

Este mês a guerrilha executou múltiplos atentados em todo o país para comemorar o 50; aniversário da morte do sacerdote Camilo Torres, ícone do grupo abatido por militares, e de outros dirigentes emblemáticos como Domingo Laín e Gregorio Manuel Pérez, "El Cura Pérez".

No entanto, nos últimos dias, o ELN deixou em liberdade o funcionário Ramón José Cabrales, há mais de seis meses mantido em seu poder, e o militar Jair de Jesús Villar. Ambas as libertações eram uma condição imposta por Santos para iniciar qualquer negociação na fase pública.

O conflito colombiano, que começou como um levante camponês nos anos 1960, envolveu durante mais de 50 anos guerrilhas de esquerda, paramilitares de direita e forças públicas. Deixa pelo menos 260.000 mortos, 45.000 desaparecidos e 6,8 milhões de deslocados.

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