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Zika vírus: Cientistas avançam na busca do tratamento da doença

Para o autor da pesquisa, Richard Kuhn, quaisquer regiões do Zika que sejam únicas no vírus têm o potencial de explicar diferenças na forma como o vírus é transmitido e como se manifesta enquanto doença.

postado em 31/03/2016 19:53
Um estudo divulgado hoje (31/3) revela a estrutura do vírus Zika, um avanço que os pesquisadores da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos, acreditam ser crucial para o desenvolvimento de tratamentos e vacinas contra a doença.

O estudo publicado na página de internet da revista científica Science conclui que a estrutura do Zika é muito semelhante à de outros flavivírus, a família de vírus que inclui a dengue, a febre-amarela ou a febre do Vale do Nilo.

Apesar das semelhanças, em particular com a dengue, o Zika parece ter uma estrutura ligeiramente diferente em uma área que, na dengue, facilita a ligação aos anticorpos e aos receptores do hospedeiro.

Para o autor da pesquisa, Richard Kuhn, quaisquer regiões do Zika que sejam únicas no vírus têm o potencial de explicar diferenças na forma como o vírus é transmitido e como se manifesta enquanto doença.

;A estrutura do vírus fornece um mapa que mostra potenciais regiões do vírus que poderão ser alvo de um eventual tratamento, usadas para criar vacinas eficazes ou para melhorar a nossa capacidade de diagnosticar e distinguir a infeção por Zika de outros vírus relacionados;, disse Kuhn, que é também diretor do departamento de Ciências Biológicas da Universidade de Purdue.

Para o cientista, ;determinar a estrutura aumenta muito aquilo que se compreende do Zika, um vírus de que tão pouco se sabe, e ilumina as áreas mais promissoras para se investigar a forma a combater a infeção;.

;A maioria dos vírus não invade o sistema nervoso ou o feto em desenvolvimento graças a barreiras sangue-cérebro e à placenta, mas a associação com malformações no desenvolvimento do cérebro de fetos em grávidas infetadas com o Zika sugere que este vírus o faz;, disse Devika Sirohi, que participou na pesquisa.

Reconhecendo que ;não é claro como é que o Zika consegue atingir estas células e infetá-las;, Sihori explicou que as diferenças encontradas na estrutura do vírus ;podem ser cruciais e justificam mais investigação;.

Os investigadores estudaram um vírus do Zika isolado de um paciente infectado durante a epidemia na Polinésia Francesa e determinaram a estrutura a uma resolução quase atômica, explicou Michael Rossmann, coautor do estudo.

Kuhn e Rossmann estudam os flavivírus, família a que pertence o Zika, há mais de 14 anos. Foram os primeiros a mapear a estrutura de um desses vírus, ao determinar a estrutura da dengue em 2002. Em 2003, foram os primeiros a determinar a estrutura do vírus da febre do Vale do Nilo e são agora os primeiros a fazê-lo com o Zika.

Um surto de Zika afeta atualmente a América do Sul, inclusive o Brasil, país mais afetado e que registou mais de um milhão e meio de casos.

O vírus é transmitido aos seres humanos pela picada do mosquito Aedes aegypti, que existe em 130 países, e na maioria dos casos provoca sintomas gripais benignos.

No entanto, o vírus tem sido associado a casos de microcefalia, doença em que os bebês nascem com o crânio anormalmente pequeno e déficit intelectual, e a casos de Síndroma Guillain-Barré, uma doença neurológica grave.

Na semana passada, o Brasil confirmou 907 casos de microcefalia e 198 de bebês que morreram devido a este problema congênito desde o início do surto.

As autoridades estão investigam se a malformação afeta outros 4.293 bebês com sintomas parecidos.

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