Em mais um gesto em favor do acolhimento de fiéis ;imperfeitos; pela Igreja Católica, o papa Francisco voltou a defender ontem que a instituição abra as postas a casais divorciados e homossexuais. Após dois anos de debates no Vaticano sobre questões ligadas à família, o pontífice divulgou ontem a exortação apostólica Amoris laetitia (;A alegria do amor;, em livre tradução), em que prega que a Igreja renove a postura sobre questões de família e exercite o respeito às mais diversas condições apresentadas pelos fiéis. ;As pessoas não podem ser condenadas para sempre;, pondera Francisco.
O documento, com 250 páginas divididas em nove capítulos, é resultado das conclusões de dois sínodos sobre a família, reunidos em outubro de 2014 e outubro de 2015. No texto, o papa orienta os sacerdotes a adotar uma atitude mais aberta ao diálogo com os membros da comunidade que buscam amparo, assegurando a inclusão deles na doutrina católica. O pontífice exorta a abertura da Igreja aos divorciados que voltam a se casar, para que possam ter acesso à comunhão. Apesar de reiterar que a doutrina só aceita ;a união entre um homem e uma mulher; como um casamento, o papa defende que famílias de casais homoafetivos devem ;receber orientação pastoral respeitosa;. ;Que aqueles que manifestem orientação homossexual possam receber a assistência de que precisam para compreender e carregar a vontade de Deus em suas vidas;, aconselha.
Segundo Francisco, ;não é possível dizer que todos os que se encontram em alguma situação chamada ;irregular; vivem em situação de pecado mortal;. Ele considera que nem todas as discussões doutrinárias devem ser ;resolvidas com intervenções magisteriais; e faz um convite para que os clérigos católicos avaliem caso a caso, com menos rigidez e mais disposição para escutar, para que os fiéis de sintam ;parte da Igreja;. ;Essas situações exigem discernimento e acompanhamento com grande respeito, evitando qualquer linguagem e atitude que faça com que se sintam discriminados, promovendo sua participação na vida da comunidade;, orienta o papa.
Reflexão
Para dom Odilo Scherer, cardeal-arcebispo de São Paulo, o pontífice apresenta uma nova abordagem, ao colocar nas mãos de bispos e outros sacerdotes o acompanhamento das famílias. ;O papa ressalta que não existe uma solução geral para todos os casos e coloca uma questão nova, à medida que delega essa responsabilidade;, observa. ;Espero que o documento seja conhecido e estudado para que, a partir dele, se possa promover iniciativa para colocar em prática as orientações.;
O arcebispo acredita que as novas orientações podem resultar em revisão nos cursos de noivos e em outras atividades comunitárias. Apesar de a resistência de alas conservadoras dentro da Igreja e entre os fiéis ser uma questão presente desde o início dos debates sobre o acolhimento aos que destoam dos dogmas da instituição, dom Odilo ressalta que a orientação do papa ;é para todos;, e que a recepção à exortação apostólica é positiva. ;Enquanto o sínodo era um processo de consulta, a diferença é que essa é a palavra do papa;, observa. ;A resistência de alas conservadoras é uma reflexão que fazemos há tempo.;
Dom João Carlos Petrini, arcebispo de Camaçari (BA), avalia que as colocações de Francisco refletem um ;novo momento de purificação das intenções; que a Igreja vive. Para o religioso, o papa reafirma o estilo realista de falar diretamente aos casais, e não apenas de forma filosófica, em um documento do Vaticano. Ele considera que o gesto de abertura é coerente com a mensagem de misericórdia e integração disseminada pelo pontífice neste ano.Dom Petrini reconhece que podem surgir dúvidas entre os clérigos, mas acredita que o otimismo prevalece entre a comunidade católica. ;O texto não discute a doutrina, mas apresenta uma postura pastoral;, conclui.
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