Agência France-Presse
postado em 13/04/2016 14:42
Damasco, Síria - Alguns votam por dever cívico ou para apoiar Bashar al-Assad, enquanto outros rejeitam uma votação que consideram ilegítima: os sírios foram chamados às urnas nesta quarta-feira para legislativas organizadas pelo regime, mas criticadas pela oposição.
Em um país totalmente fragmentado após cinco anos de guerra e com o envolvimento de diferentes forças armadas, esta eleição ocorre apenas em áreas sob controle do governo, um terço do território, onde vive cerca de 60% da população.
Como nas eleições anteriores, em 2012, esta votação deverá ter pouco impacto sobre o curso da guerra que custou 270.000 vidas e causou mais de 200 bilhões de dólares em destruição.
As assembleias de voto abriram às 7h00 (01h00 de Brasília) e deveriam fechar às 19h00, mas, de acordo com a televisão estatal, que evocou uma "forte participação", as autoridades estenderam a votação até a meia-noite.
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"Nós cumprimos o nosso dever nacional e agora cabe aos eleitos manter as suas promessas", explica Samer Issa, um motorista de 58 anos, após votar em Damasco.
Para esta segunda eleição legislativa desde o início da guerra, em 2011, 3.500 candidatos concorrem a 250 assentos parlamentares.
Os resultados, esperados nos próximos dias, devem ser semelhantes aos das legislativas de 2012, de acordo com especialistas. O Partido Baath, que governa o país com mão de ferro há mais de meio século, obteve na ocasião a maioria das cadeiras.
Votação em Palmira
O presidente Assad votou com sua esposa na Biblioteca Nacional.
"Estamos testemunhando nos últimos cinco anos uma guerra, mas o terrorismo não conseguiu atingir o seu principal objetivo, o de destruir a estrutura social da Síria e sua identidade nacional, expressa através da Constituição", declarou. "É para defendê-la que estamos todos juntos hoje", acrescentou, em resposta aos opositores que chamaram esta eleição de "ilegítima".
A guerra esteve no centro da campanha eleitoral, e esta eleição é realizada após várias semanas de relativa calma em função de um acordo de cessar-fogo sob os auspícios dos americanos e russos.
Mas a guerra deve se acirrar entre as forças do regime, os rebeldes islâmicos moderados e as duas formações jihadistas rivais, o grupo Estado Islâmico (EI) e a Frente Al-Nosra, o ramo sírio da Al Qaeda.
A escalada da violência pode pesar nas negociações indiretas entre o regime e a oposição, que são retomadas nesta quarta em Genebra.
Em Palmira (centro), onde o exército expulsou os jihadistas do EI em 27 de março, oito locais de voto foram instalados, incluindo um na entrada do museu arqueológico devastado pelos extremistas.
;Não acredito;
Em Aleppo (norte), segunda cidade do país, a votação terá lugar apenas nas áreas controladas pelo regime. Na parte rebelde, os habitantes expressaram sua hostilidade.
"Isso é uma piada. Eu não acredito nestas eleições. Assad só quer mostrar que ele tem um Estado, um povo e um regime sólido", declarou Mohamed Zobeidiyyé, um mecânico.
A votação também é denunciada por adversários do exterior e do interior, bem como por países ocidentais como a França, que falaram de uma "farsa".
As Nações Unidas exigem, por sua vez, a realização de eleições gerais em 2017.
No entanto, para o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, o papel das eleições é "não deixar um vácuo na esfera" do poder sírio.
De acordo com a comissão eleitoral, a eleição acontece em todos os lugares, exceto nas províncias de Raqa e Idleb (norte) nas mãos do EI e da Frente Al-Nosra, e nas áreas controladas pelos rebeldes.
Os eleitores dessas áreas podem, no entanto, votar em áreas controladas pelo exército.
Quanto aos curdos, eles disseram que não se sentem "envolvidos" e na obrigação de participar desta votação nas áreas que controlam, no nordeste.