Sem se deixar abalar pelas investigações sobre possíveis irregularidades cometidas durante seu governo, a ex-presidente Cristina Kirchner transformou seu depoimento à Justiça argentina em uma demonstração de força política. Diante da intimação para que prestasse depoimento em um caso de irregularidades na venda de dólares pelo Banco Central da Argentina (BCA), a militância kirchnerista tomou as ruas de Buenos Aires para um ato em apoio à ex-mandatária. Apesar de Cristina ter se negado a responder às perguntas do juiz, ela subiu no palanque para denunciar a ;perseguição; promovida pelo governo do sucessor, o presidente conservador Mauricio Macri, e por parte do Judiciário. ;Podem me prender, mas o que não podem é me calar;, desafiou a líder do Partido Justicialista (peronista).
Debaixo de chuva, apoiadores da ex-presidente a receberam com gritos de ;vamos voltar;. Logo após se apresentar ao juiz Claudio Bonadio, que conduz as investigações sobre operações cambiais do BCA no mercado futuro, Cristina tomou o lugar central no palanque montado nos arredores do complexo judiciário de Comodoro Py para exortar à união dos peronistas contra o atual governo de centro-direita.
Depois de passar os últimos quatro meses longe dos holofotes, a ex-presidente propôs criar uma ;grande frente cidadã; para fazer oposição a Macri. Cristina partiu da estratégia de se apresentar como vítima do sucessor para apontar falhas da atual administração e questionar a idoneidade do novo presidente. ;Esse é um governo que não cuida dos argentinos. Temos indústrias em crise, comércios fechados, altas tarifas nos serviços públicos, sem os quais as pessoas não podem viver;, apontou. ;Nunca vi tantas calamidades produzidas em apenas 120 dias;, disse Kirchner, que ocupou a Casa Rosada de 2007 a 2015.
Além das críticas à condução da economia argentina, a ex-presidente ressaltou os vínculos de Macri com empresas offshore reveladas pela investigação Panama Papers, com base em documentos da firma pamamenha de advocacia Mossack Fonseca, relativos à participação de centenas de governantes, políticos e celebridades de todo o mundo em fundos de investimentos estabelecidos em paraísos fiscais do Caribe, como as Bahamas. ;No meu governo, buscaram a rota do chamado ;dinheiro K; e se depararam com a rota do ;dinheiro M;;, alfinetou ; fazendo referência à descoberta, no escândalo Panama Papers, de companhias offshore em nome de Franco Macri, pai do atual presidente.
Audiência
Diante da Justiça, no entanto, Cristina optou por não responder verbalmente às perguntas de Bonadio. Em vez disso, a ex-presidente apresentou um documento contendo os argumentos de sua defesa. Segundo o jornal La Nación, a ex-mandatária demonstrou impaciência e questionou ;onde estava o juiz;, ao ser recebida pela secretária do magistrado. Ao promotor Eduardo Taiano, ela teria dito que ;queria conhecê-lo pessoalmente;.
Cristina esteve acompanhada do advogado Carlos Beraldi e justificou a opção de apresentar a versão dos fatos por escrito para ;não validar a arbitrariedade, a ilegalidade e a incompetência técnica e profissional; de Bonadio. ;Sobre a acusação de associação ilícita, a única organização da qual participei foi do Poder Executivo, em caráter de titular, em duas oportunidades consecutivas e por vontade da maioria do povo argentino, com 46% e 54% (dos votos, respectivamente em 2007 e 2011), além de ser filiada ao Partido Justicialista;, explanou Cristina, segundo o jornal Clarín.
Apesar de a Casa Rosada tentar manter distância da polêmica, a reação da ala kirchnerista à série de investigações abertas contra a ex-presidente e pessoas ligadas a ela foi criticada por adversários políticos. Em sua página no Twitter, a deputada e ex-candidata à Presidência Margarita Stolbizer considerou que os argentinos estão ;melhores; sem Cristina. Ela sugeriu que a ex-mandatária explique a origem de sua fortuna e as conexões que mantém com o empresário Lázaro Báez. No Facebook, a deputada opositora Elisa Carrió classificou o discurso de Cristina como um ;ridículo show da atriz nacional;.
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