Milhares de civis fugiram nas últimas 48 horas dos violentos combates entre as forças do regime, os rebeldes e os jihadistas no norte da Síria, que fragilizam ainda mais a trégua e as negociações de paz.
Na província de Aleppo, ao norte, as forças governamentais sírias lutavam nesta sexta-feira (15/4) ao mesmo tempo contra os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) e da Frente al-Nosra, o braço sírio da Al-Qaeda, relatou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Desde domingo (10/4), mais de 200 combatentes de diferentes facções morreram nesses confrontos, segundo um comunicado do Observatório.
A delegação do presidente Bashar al-Assad chegou na sexta-feira a Genebra e se reuniu com o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura. Na cidade suíça, o enviado mostrou sua frustração com as dificuldades de acesso humanitário ao país, devastado por uma guerra que já dura cinco anos e que deixou mais de 270.000 mortos.
Staffan de Mistura denunciou que Damasco está impondo restrições à entrega de ajuda humanitária nas localidades sitiadas, apesar das resoluções do Conselho de Segurança sobre o acesso a essas zonas.
Reunida no Alto Comitê de Negociações (ACN), a oposição declarou que está disposta a formar um governo de transição com diplomatas e tecnocratas do governo sírio, mas não com "os que tiverem cometido crimes".
"Não podemos aceitar a participação no (futuro) órgão de transição de responsáveis que tenham cometido crimes contra o povo sírio", declarou o porta-voz da coalizão, Salem al-Meslet.
O fluxo de deslocados aumentou ainda mais com a fuga de ao menos 30.000 pessoas pelos combates entre extremistas e rebeldes nas últimas 48 horas, afirmou a organização Human Rights Watch (HRW), pedindo à Turquia que abra sua fronteira.
"Os civis fogem dos combatentes do EI, e a Turquia responde com disparos de balas reais, em vez de sentir compaixão por eles", lamentou Gerry Simpson da HRW.
Na quinta-feira, o EI tomou seis localidades da província de Aleppo. A mais importante delas é Hiwar Kallis, situada a um quilômetro da fronteira, segundo o OSDH.
O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha) falou de entre 21.000 e 23.000 civis que fugiram dos combates e que seguirão para Azasz, vários quilômetros a oeste. Em janeiro e fevereiro, esta região já acolheu dezenas de milhares de civis que fugiam dos combates.
Colinas estratégicas
Em Aleppo, o Exército e as milícias pró-regime enfrentavam o EI em Janaser, no leste da província, ao mesmo tempo em que também combatiam a Frente Al-Nosra, aliada com grupos rebeldes nas colinas de Handarat, um setor estratégico situado vários quilômetros ao norte.
Essas colinas são muito importantes em nível estratégico porque dominam a rota de abastecimento dos rebeldes que controlam vários bairros de Aleppo, disse o Observatório.
"O que acontece em Aleppo é uma violação maior do cessar-fogo. Está acontecendo uma grande batalha e isso levará a um grande desastre, se o governo ganhar", porque bloqueará a via do abastecimento, declarou à AFP em Genebra o comandante rebelde Eyad Shamsi, acusando o governo.
Nesse caso, "um milhão de pessoas se verão sitiadas", advertiu.
Na quinta-feira, o governo americano disse estar "muito preocupado" com esses ataques, e o secretário de Estado, John Kerry, exigiu que a Rússia controle as forças do governo sírio.
Os Estados Unidos também mostraram sua indignação com a morte de um médico sírio em um bombardeio aéreo ocorrido em uma zona, na qual a Aviação russa opera.
O OSDH disse que o doutor Hassan al-Araj morreu em um setor próximo a um hospital perto da cidade de Hama, ao sul de Aleppo.