A Organização das Nações Unidas (ONU) deu a largada oficial para a eleição do próximo secretário-geral. Na última semana, os nove candidatos se apresentaram diante da Assembleia Geral, para uma rodada inicial de perguntas e respostas. É a primeira vez na história da organização que os aspirantes farão campanha aberta, o que permite maior participação de todos os países-membros e da sociedade civil, que também contribui no processo. A inovação na escolha promete ir além. Nunca antes a pressão pela eleição de uma mulher foi tão forte. Liderado pela representação da Colômbia na ONU, um grupo de 56 países defende que chegou a hora de uma mulher assumir o posto mais alto.
A búlgara Irina Bokova, diretora da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), é considerada a mais forte das quatro candidatas, elenco completado pela neozelandesa Helen Clark, pela croata Vesna Pusic e pela moldava Natalia Gherman. Além da vasta experiência no sistema ONU, Bokova vem de um país do Leste Europeu, região que nunca elegeu um secretário-geral e, segundo entendimento informal sobre rotatividade, deveria ser a próxima a chefiar a organização. Analistas indicam que ela é vista com bons olhos pela Rússia, mas precisa demonstrar que não terá pulso fraco com os apoiadores, caso se torne secretária-geral.
Os membros permanentes do Conselho de Segurança ; Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido ; têm direito a veto e podem recorrer a ele, caso discordem de uma indicação. ;Não acredito que os Estados Unidos ou qualquer outro país estejam dispostos a usar o veto para cancelar a eleição de um candidato que não apreciam, pois isso passaria uma mensagem de autoritarismo que vai de encontro ao que propõe o processo mais transparente adotado neste ano. Mas o candidato precisa convencer de que não pegará leve com um ou outro país;, avalia o embaixador Marcos de Azambuja, ex-secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e conselheiro do Centro de Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
"Se não elegerem uma secretária-geral agora, é porque a ONU não quer ser chefiada por uma mulher;
Marcos de Azambuja, embaixador e ex-secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores
Em sua apresentação perante a Assembleia da ONU, transmitida ao vivo pela internet, Bokova insistiu no compromisso com os direitos humanos. ;O secretário-geral tem a autoridade moral e o posto para advogar e conversar com líderes mundiais. Acho que essa é uma importante responsabilidade;, destacou.
A ex-premiê Helen Clark, da Nova Zelândia, também é vista como um nome forte, com chances reais de vitória. Clark construiu uma sólida carreira política e diplomática e é descrita como grande negociadora. Chefe de governo por nove anos, iniciou um processo de reconciliação com os indígenas maoris e aumentou a participação de minorias no gabinete. Atualmente, chefia o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), escolhido como a organização humanitária mais transparente do mundo, pelo segundo ano consecutivo.
;Das candidatas, Helen Clark é a única que conheço pessoalmente. Admiro muito seu trabalho, tem um talento extraordinário. Minha posição pessoal é de torcida por ela e pelo português António Guterres, que é um amigo do Brasil, foi premiê e trabalha na ONU há muitos anos;, revela Azambuja. Favorável à indicação de uma mulher, o embaixador destaca que, ;com quatro mulheres candidatas, é difícil não encontrar ao menos uma com as qualidades que o cargo exige. Se não elegerem uma secretária-geral agora, é porque a ONU não quer ser chefiada por uma mulher;.
Decisão
A equidade de gênero, um dos temas principais da campanha, é defendida também pelos candidatos homens. Em dezembro, o atual secretário-geral, Ban Ki-moon, e a então presidente do Conselho de Segurança, a americana Samantha Power, defenderam a nomeação de candidatas para a disputa, em carta conjunta endereçada a todos os países-membros. Uma campanha pela eleição da primeira secretária-geral foi lançada on-line e acumula mais de 30 mil assinaturas.
A disputa está em andamento, mas a data da eleição não foi acertada e novos aspirantes podem se apresentar. Uma decisão final deve ser tomada ainda em 2016, já que o mandato de Ban se encerra em 31 de dezembro. A expectativa é de que em meados do ano o Conselho de Segurança inicie uma série de votações secretas, para depois apresentar um nome à Assembleia Geral, que deve ratificá-lo em setembro.
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