Há fortes evidências de que a polícia mexicana torturou alguns dos principais suspeitos presos pelo desaparecimento de 43 alunos, de acordo com um relatório divulgado neste domingo (24) por um grupo de peritos independentes.
O grupo de peritos da Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos diz que um estudo feito em 17 dos cerca de 110 suspeitos presos no caso mostrou sinais de espancamentos, incluindo, em alguns casos, dezenas de hematomas, cortes e arranhões.
Um suspeito alega que quase foi asfixiado com um saco plástico, e estudos médicos mostraram que outro levou um tapa nas orelhas tão forte que seus tímpanos romperam e seus ouvidos sangrarem.
O governo mexicano divulgou recentemente documentos que sugerem a abertura de investigações contra policiais e militares, mas as autoridades não responderam aos questionamentos sobre se alguém foi preso ou acusado.
Os 43 estudantes de uma faculdade com professores considerados radicais desapareceram depois que foram levados por membros da polícia local em setembro 2014, na cidade de Iguala, estado de Guerrero.
As alegações de tortura dos suspeitos poderiam colocar em perigo qualquer chance de condenação em um dos casos de direitos humanos de maior destaque na história mexicana, especialmente porque a versão do governo sobre os eventos - dizendo que policiais corruptos entregaram os alunos a membros de gangues de drogas, que os mataram e queimaram os seus corpos em um depósito de lixo - depende, em grande parte, do testemunho de suspeitos ligados ao tráfico que agora dizem que foram torturados para confessar.
"Eles mentiram sobre como eles nos capturaram", disse Patricio Reyes Landa, conhecido como "El Pato", em depoimento tornado público pelo relatório dos peritos. "Eles entraram na casa, batendo e chutando. Eles me arrastaram para dentro de um veículo, me vendaram os olhos, amarraram meus pés e mãos, e começaram a me bater de novo, além de darem choques elétricos. Eles colocaram um pano sobre meu nariz e jogaram água. Eles me deram choques no interior da minha boca e em meus testículos. Eles colocaram um saco sobre o meu rosto para que eu não conseguisse respirar. Isso durou horas".
O grupo de peritos reclamou que o governo foi lento para entregar algumas das provas que tinha pedido, e criticou investigações do Ministério Público como imperfeitas e incompletas. Os peritos sugeriram que o governo queria manter a sua versão, sem investigar o possível envolvimento da Polícia Federal e do Exército.
Fonte: Associated Press