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Bombardeios destroem estabelecimentos dos Médicos Sem Fronteiras na Síria

Organização das Nações Unidas alerta para "deterioração catastrófica" do conflito


O desespero ecoava sobre os escombros do Hospital Al-Quds, uma das 150 instituições de saúde apoiadas na Síria pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF), no distrito de Al-Sokry, em Aleppo (norte). ;Eu quero minha criança. Eu quero meu bebê, por favor. Deixem o meu bebê;, clamava. Atordoado, o repórter fotográfico e ativista sírio Riaz Hussain, 24 anos, ouviu os gritos pouco depois de se levantar do chão ; um gesto instintivo ao escutar o som dos caças em voo rasante. Passava das 23h de quarta-feira (17h em Brasília) quando uma série de bombardeios aéreos transformou o prédio do hospital em uma pilha de toneladas de concreto, matando ao menos 50 pessoas, incluindo várias crianças, dois médicos, duas enfermeiras, um segurança e um funcionário da manutenção. Entre as vítimas, está Mohammed Wasim Maaz, o único pediatra da cidade.

Hussain se apressou em fotografar e filmar o cenário caótico, mas também ajudou a levantar o concreto para buscar sobreviventes. Pelo menos 40 ofensivas lançadas ontem deixaram mais 64 mortos em bairros rebeldes e governamentais, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

;Os MSF categoricamente condenam o alvejamento ultrajante de mais uma instalação médica na Síria;, declarou, por meio de um comunicado, Muskilda Zancada, chefe da missão da organização não governamental no país. ;Esse ataque devastador destruiu um hospital vital em Aleppo, e o principal centro de referência em pediatria na área. Onde está a indignação entre aqueles que detêm o poder e a obrigação para parar com essa carnificina?; Também em nota, Marianne Gasser, chefe da missão do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) na Síria, considerou ;inaceitável; o ataque. ;Infelizmente, não é a primeira vez que um estabelecimento médico vital é atingido. (;) Instamos todas as partes a pouparem os civis. Não ataquem os hospitais, não usem armas que causam danos generalizados. Do contrário, Aleppo será empurrada cada vez mais para a beira de uma catástrofe humanitária.;


Horas depois do ataque ao hospital, a Organização das Nações Unidas (ONU) alertou para uma ;deterioração catastrófica; em Aleppo desde a última terça-feira. ;Tantos trabalhadores humanitários da saúde e socorristas estão sendo bombardeados, assassinados e mutilados, no momento em que as vidas de milhões de pessoas estão em jogo;, lamentou Jan Egeland, chefe da ONU para esforços humanitários na Síria. ;Engraçado, escuto essa frase das Nações Unidas desde o início da revolução;, desabafou Hussain ao Correio. O ativista acusa as forças russa e síria pelo massacre no hospital. ;O Al-Quds era especializado em tratar recém-nascidos. Havia muitos pacientes lá, além de mulheres que foram dar à luz. Eu vi muitos corpos, principalmente de crianças, mulheres e de membros da equipe médica;, acrescentou.

Violência


Hussain admite que a semana foi de extrema violência em Aleppo. ;As aviações de Damasco e de Moscou bombardearam os mercados de Al-Mashed, Slaha Alleen, Al-Fardos, Tareq Album e Bustan Al-Kaser. A única meta é matar o maior número possível de pessoas. Nos últimos quatro dias, os ataques aéreos deixaram pelo menos 170 mortos;, afirmou à reportagem. Staffan de Mistura, enviado da ONU para a Síria, advertiu ontem que a interrupção das hostilidades entre rebeldes não jihadistas e forças do governo, firmada em 27 de fevereiro, está ;quase morta;.

;Um hospital que deu a vida agora está reduzido a uma pilha de destruição repleta de morte;, lamentou ao Correio Mostafa, também morador de Aleppo. Segundo ele, o estabelecimento apoiado pelos MSF foi alvo de três bombardeios. ;Eu estava em casa, a cerca de 500m do Al-Quds, quando escutei a explosão. Fiquei amedrontado e corri até lá para tentar socorrer os feridos;, relatou. De acordo com um comunicado dos MSF, 63 hospitais auxiliados pela ONG foram atacados em 2015 e 11 neste ano. Noventa e cinco por cento da equipe médica mantida em Aleppo antes do início da guerra civil, em 15 de março, morreram ou fugiram. Entre 70 e 80 médicos permanecem na cidade, sendo dois ginecologistas.

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