Agência Estado
postado em 29/04/2016 18:22
Aleppo, Síria - Bombardeios em Aleppo voltaram a semear a morte nesta sexta-feira, deixando mais de 30 civis mortos, enquanto um acordo russo-americano para diminuir a tensão na Síria deve entrar em vigor nas próximas horas.
Um ataque aéreo do governo atingiu a clínica médica Al Marja, na parte rebelde de Aleppo, ferindo várias pessoas, 24 horas depois do ataque a um hospital que deixou dezenas de mortos na segunda maior cidade da Síria.
"É um estabelecimento de serviço aos civis. Não há presença armada aqui", ressaltou o diretor do local, Hassan al-Ahmad.
A ONG Médicos do Mundo, que colabora com a clínica, disse que o imóvel ficou "totalmente destruído".
"A terra está tremendo sob os nossos pés", testemunhou um habitante do bairro popular de Bustan al-Qasr, que voltou a ser alvo hoje dos ataques intensos da Força Aérea do governo de Bashar al-Assad.
"Os bombardeios não pararam durante a noite, e nós não dormimos", contou à AFP.
Os ataques aos bairros rebeldes fizeram ao menos 11 novas mortes nesta sexta, incluindo mulheres e crianças, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Já nos bairros controlados pelo governo, 13 óbitos foram confirmados.
Um correspondente da AFP na parte rebelde da cidade contabilizou pelo menos dez ataques aéreos, enquanto equipes de resgate e paramédicos trabalhavam incansavelmente de bairro em bairro.
Para os habitantes de Aleppo, a trégua imposta por russos e americanos ao governo sírio e aos rebeldes desde o final de fevereiro é uma memória distante. Mais de 200 civis foram mortos em uma semana nos ataques que atingem a cidade do norte, dividida desde 2012.
Ponto de ruptura
A ONU considerou "imperdoável" o ataque ao hospital, e o secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, pediu que "justiça seja feita para estes crimes".
Ban condenou os "recentes bombardeios indiscriminados pelas forças do governo e grupos de oposição e as táticas terroristas dos extremistas". Também pediu que todos os beligerantes "cessem imediatamente as hostilidades".
O governo de Bashar al-Assad negou que tenha bombardeado o hospital, e o ministro sírio da Informação, Omran al-Zoabi, chegou a alegar que a propriedade não existe.
Na quinta-feira à noite, os Estados Unidos manifestaram sua "indignação" com os ataques que visaram "deliberadamente um edifício médico conhecido".
;Desastre humanitário;
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), que apoiava o hospital, condenou o ato "revoltante que visou mais uma vez a um centro médico na Síria". Este era "o principal centro pediátrico da região", informou a ONG. O último médico pediatra da área morreu no ataque.
Para o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CIVC), Aleppo está "no limiar de um desastre humanitário".
"Em toda a parte, é possível ouvir as explosões mortais, bombardeios e aviões sobrevoando a área", relatou o representante do CICV na cidade, Valter Gros.
"As pessoas vivem no fio da navalha. Todos temem por suas vidas", acrescentou.
Em uma carta publicada pela organização Crisis Action, médicos de Aleppo lançaram um alerta.
"Nossos hospitais estão perto do ponto de ruptura" pela intensificação dos bombardeios, denunciam.
O alto comissário da ONU para os direitos Humanos, Zeid Ra;ad Al Hussein, denunciou, por sua vez, "o monstruoso desprezo pelas vidas dos civis por todas as partes no conflito".
;Trégua; em duas frentes
Frente a mais esta carnificina, o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, pediu à Rússia e aos Estados Unidos, patrocinadores da trégua em vigor desde 27 de fevereiro, que adotem "medidas urgentes".
Algumas horas mais tarde, um acordo russo-americano foi anunciado sobre a entrada em vigor de um "processo para diminuir a tensão" no sábado de manhã em duas frentes - mas não em Aleppo -, de acordo com fontes sírias e russas.
"A partir de sábado à 1h da manhã (20h de sexta no horário de Brasília), entra em vigor um relaxamento que inclui as regiões de Ghuta Oriental, Damasco e Latakia", segundo o comando do Exército sírio.
Já o enviado especial americano para a Síria, Michael Ratney, confirmou "um novo compromisso no cessar das hostilidades para todas as partes (...) sábado à 00h01 (19h de sexta em Brasília)".
E relação a Aleppo, Ratney disse que EUA e Rússia ainda não chegaram a um acordo.
"Discutimos com a Rússia para chegar rapidamente a um acordo para reduzir a violência também nesta região", acrescentou.
Em um comunicado, a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, pediu às partes em conflito que se comprometam novamente com uma trégua "indispensável".
Ontem, a ONU advertiu que milhares de sírios podem não receber ajuda de emergência, se os combates continuarem.
A guerra nesse país está em seu sexto ano e já deixou mais de 270.000 mortos, além de forçar metade da população ao exílio.