Um suspiro. A voz, por meio do WhatsApp, denunciava o cansaço e o medo ante uma guerra que não poupa civis. A cada 25 minutos, uma pessoa foi morta em Aleppo, no norte da Síria, entre terça e quinta-feira ; a cada 13 minutos, uma ficou ferida. ;Nós desafiamos a morte o tempo todo. Depois dos bombardeios, esperamos três horas e prosseguimos com a vida;, afirmou ao Correio o professor de inglês Mohammed Edel, 31 anos. Menos de 48 horas após um bombardeio ao Hospital Al-Quds que deixou 50 mortos, inclusive crianças, o Centro Médico Bostan Al-Qasser e duas clínicas situadas em distritos controlados pelos rebeldes foram alvos da aviação síria. No bairro de Bab Al-Faraj, dominado pelo regime do presidente Bashar Al-Assad, um ataque com morteiros contra a Mesquita Malla Khan matou 15 fiéis. Enquanto Edel conversava, via áudio, com a reportagem, era possível escutar as explosões e o disparo de metralhadoras. Nos combates de ontem, ao menos 30 morreram; 215 nos últimos oito dias. Na terça-feira, a tragédia golpeou a família do professor. Cinco parentes de sua mulher, inclusive três crianças, acabaram mortos em um ataque aéreo.
Os bombardeios, quase incessantes, empurraram os 250 mil moradores remanescentes de Aleppo para a beira de um desastre humanitário. Antes de a guerra começar, a terceira cidade mais antiga do mundo ; fundada 4.300 anos antes de Cristo ; abrigava 5 milhões de moradores. ;Não temos eletricidade e dependemos de geradores. Toda a água que usamos é retirada de poços;, contou Edel. O fotógrafo Basem Ayoubi, 24, classifica a situação de ;muito assustadora;. ;Os aviões não abandonam o céu de Aleppo. As condições humanitárias são tristes. Há muitos desabrigados, e os preços dos alimentos estão caros;, comentou. O medo fez com que Ayoubi tomasse a decisão de dormir no porão de casa. ;Saio pela manhã e permaneço nas ruas até a chegada dos aviões de guerra. Às vezes, faço apenas uma refeição durante todo o dia.;
Perigo
Também fotógrafo, Riaz Hussain, 24, relatou à reportagem que a água e a energia foram cortadas há duas semanas. ;Nós temos três hospitais em funcionamento, com equipamentos precários. Estamos cercados pelo Exército sírio e por milícias xiitas iranianas. Sobre a cidade, um enxame de até sete aeronaves realiza bombardeios simultâneos;, afirmou. ;Se você caminhar pela rua, corre o risco de ser atingido por franco-atiradores. Ninguém vai ao mercado, com receio de se tornar vítima.; Todos os familiares de Riaz deixaram Aleppo. ;Às vezes fico sozinho, outras vezes com colegas. Durmo por volta das 2h e acordo com o som dos aviões e das explosões, geralmente às 8h. Todos os dias, são mais de 250 foguetes e bombas.;
Em Amã, Sam Taylor, coordenador de comunicações da organização não governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) na Síria, falou ao Correio por telefone e admitiu que Aleppo enfrenta os piores ataques dos últimos quatro anos. ;As forças do governo e da oposição travam combates pelo controle da rodovia que leva à cidade. O fechamento dela seria um desastre humanitário.; Segundo ele, o ataque ao Al-Quds, hospital apoiado pela MSF, representou ;imensa perda para o sistema de saúde local;. ;Todos os dias, instalações médicas são atingidas. As forças do governo alvejam mercados e escolas. É uma tragédia imensa.;
Ziad Ra;ad Al-Hussein, alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, denunciou ;um monstruoso desrespeito pelas vidas civis;. ;A violência está subindo de volta aos níveis que vimos antes da interrupção das hostilidades. Há relatos profundamente perturbadores de preparativos militares, o que indica escalada letal.; Diante do Conselho de Segurança, Stephen O;Brien, chefe de ajuda humanitária da ONU, exortou o mundo a pôr fim ao ;sofrimento massivo;. ;Nós devemos estar envergonhados;, lamentou, ao revelar que moradores de Aleppo enfrentam ;péssimas condições de desolação, fome e inanição;.
A matéria completa está disponível para assinantes. Para assinar, .