Agência France-Presse
postado em 02/05/2016 09:29
Caracas, Venezuela - A oposição venezuelana apresentará na terça-feira (3/5) as assinaturas para ativar um referendo revogatório do mandato do presidente Nicolás Maduro, que enfrenta um crescente descontentamento popular com o agravamento da crise econômica.A coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), que tem maioria no Parlamento, afirma que conseguiu reunir 2,5 milhões de assinaturas em todo o país, quase 13 vezes mais que as 195.721 (1% do padrão eleitoral) exigidas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), para então solicitar o início do processo. "Nos deram 30 dias - a partir de terça-feira 26 de abril - para recolher as assinaturas. Nós o fizemos em tempo recorde", afirmou no domingo o porta-voz da oposição, Jesús Torrealba.
[SAIBAMAIS]Ele afirmou que as assinaturas serão apresentadas na terça-feira ao CNE, acusado pela oposição de aliado do governo. O CNE deverá constatar em um prazo de cinco dias o número, e depois convocar os signatários a ratificar o apoio em outros cinco dias contínuos. Apenas depois da validação, o Conselho autorizaria a coleta de quatro milhões (20% do padrão) para convocar o referendo. "Também vamos fazer em tempo recorde, porque o país quer sair deste governo", afirmou Torrealba, secretário executivo da MUD.
Mas um novo foco de conflito deve ser registrado. Tania D;amelio, diretora do CNE, afirmou no Twitter que para começar a verificação das assinaturas "é necessário cumprir o período de 30 dias fixado para a coleta de 1%" do padrão, ou seja, a partir de 26 de maio. A oposição, que acredita na convocação do referendo no fim do ano, afirma que a verificação deve começar assim que as assinaturas forem apresentadas, critério compartilhado por outro diretor do CNE, Luis Emilio Rondón. A divergência deve ser esclarecida em breve.
No poder desde 2013, após a morte de seu mentor Hugo Chávez (1999-2013), Maduro anunciou que formou uma comissão para revisar as assinaturas. "O referendo é uma opção, não uma obrigação. Aqui, a única coisa que é obrigação são as eleições presidenciais e serão em 2018, dezembro de 2018. É a única obrigação que temos", disse Maduro a milhares de simpatizantes por ocasião do Dia do Trabalhador.
Diante da hipótese de ter que deixar o poder por via constitucional, ou derrubado por um golpe de Estado, Maduro convocou seus partidários a se declararem em "rebelião" - mas de forma "pacífica", frisou. "Se, algum dia, a oligarquia fizer algo contra mim e conseguirem tomar este palácio, por uma via, ou por outra, eu ordeno a vocês que se declarem em rebelião e decretem uma greve geral indefinida, até obter a vitória frente à oligarquia. Uma rebelião popular com a Constituição na mão", completou.
Para revogar Maduro, o "Sim" deve obter mais dos que os 7,5 milhões de votos que ele recebeu após a morte de Chávez em 2013 para completar o período de seis anos. A oposição afirma ter certeza de alcançar o número necessário. Uma pesquisa recente da empresa Venebarómetro indicou que 68% dos venezuelanos desejam a saída de Maduro e novas eleições, enquanto 84% consideram negativa a situação do país.
A Venezuela enfrenta uma forte recessão desde 2013. No ano passado a contração foi de 5,7% e a inflação chegou a 180,9%, a maior do mundo. O país também enfrenta a escassez de alimentos, remédios e outros produtos básicos, assim como cortes de energia elétrica programados pelo governo em consequência da seca.