Agência France-Presse
postado em 02/05/2016 13:05
Havana, Cuba - O primeiro cruzeiro que zarpou dos Estados Unidos com destino a Cuba em mais de meio século foi recebido nesta segunda-feira em Havana por uma multidão emocionada que agitava bandeiras dos dois países.
Com 700 passageiros a bordo, o navio Adonia de Fathom, filial da empresa americana Carnival, atracou no porto de Havana às 14H30 GMT (11H30 de Brasília), depois de partir de Miami na tarde de domingo (01/5).
O som da buzina provocou gritos de emoção entre os cubanos e os turistas estrangeiros que acompanhavam a partir da terra firme a lenta chegada do navio neste dia ensolarado em Cuba.
Yaney Cajigal, uma dançarina de 32 anos, estava tão feliz que quase não conseguia falar. Entre o pequeno grupo de cubanos que viajou a partir de Miami, o enclave da diáspora de Cuba nos Estados Unidos, está sua sobrinha.
"Isso para mim é incrível, é muito emocionante. Nós os recebemos com as bandeiras de Cuba e Estados Unidos para que tudo seja união, paz e tranquilidade", disse a mulher à AFP.
A chegada do imponente navio foi registrada por muitos telefones celulares.
A viagem deste primeiro cruzeiro que cobre a rota entre Estados Unidos e Cuba acrescenta um novo símbolo à reconciliação política entre os outrora inimigos da Guerra Fria.
Ainda que o embargo americano sobre a ilha imposto em 1962 permaneça em vigor, os dois países restabeleceram relações diplomáticas em 2015.
Por sua vez, o governo de Barack Obama - que pediu em vão o fim do embargo ao Congresso de maioria republicana - flexibilizou algumas das restrições econômicas e acordou com Havana a retomada dos voos comerciais, do correio e dos cruzeiros.
Traidor!
Entre as pessoas reunidas para observar a chegada do Adonia, havia um homem de 40 anos envolvido na bandeira dos Estados Unidos que foi insultado enquanto falava com a imprensa.
Sob gritos de "Traidor", o homem, que discutia em voz alta com as pessoas que o atacavam, foi retirado do lugar pela polícia sob uma salva de palmas, observou uma equipe da AFP.
A partida do primeiro cruzeiro nesta nova era de relações esteve perto de naufragar devido às proibições em vigor há décadas para as viagens marítimas dos cubanos.
Por causa disso, a Carnival se negou a princípio a aceitar reservas de cubano-americanos, uma discriminação que gerou muitas críticas.
A empresa chegou a condicionar a saída de seus barcos à autorização do governo comunista para que permitisse a entrada de cubanos pelo mar.
Apenas na semana passada o governo de Raúl Castro levantou as restrições para as viagens marítimas dos cubanos partindo e chegando aos Estados Unidos, impostas desde a Guerra Fria para evitar o desembarque de anticastristas.
Devido a isso, em sua primeira viagem o Adonia transportou apenas meia dúzia de cubano-americanos, em sua maioria representantes da Carnival.
Antes de embarcar rumo a Havana, Isabel Buznego, nascida em Cuba há 61 anos, contou à imprensa que seu pai morreu sem poder viajar à ilha.
"Venho em seu nome, por isso tenho tantos sentimentos conflitantes, mas estou sobretudo feliz", disse Buznego.
Ela e o marido deixaram a ilha quando eram crianças, há mais de meio século, e retornam pela primeira vez.
A Carnival viajará duas vezes por mês em cruzeiros de uma semana com o objetivo de promover o intercâmbio cultural entre os dois países.
Devido ao embargo, os americanos não podem fazer turismo livremente em Cuba e devem obter uma série de autorizações para visitar a ilha comunista.