Silvio Queiroz
postado em 08/05/2016 08:00
A votação desta semana no Senado brasileiro sobre o processo de impeachment, que aponta para o afastamento da presidente Dilma Rousseff por ao menos 180 dias, tem impacto direto em uma das iniciativas geopolíticas mais badaladas desde o fim da Guerra Fria, com a dissolução da União Soviética, que deu lugar a uma ordem política global unipolar, sob a hegemonia dos Estados Unidos. Dono da primeira inicial da sigla Brics ; completada por Rússia, Índia, China e África do Sul ;, o Brasil encarna hoje, para os analistas do cenário internacional, o momento delicado vivido pelas chamadas potências emergentes. Crises políticas e econômicas, ou a confluência de ambas, golpearam de maneira dramática a capacidade de intervenção de um bloco que mal chegou a estruturar-se enquanto tal, e sugerem que, nos próximos anos, cada um dos cinco estará mais ocupado com questões próprias do que com a pretensão de oferecer contrapeso a Washington e seus aliados ocidentais.
;A bolha do Brics estourou;, proclamou o jornal britânico The Guardian, fazendo coro a uma legião de meios de comunicação e analistas boquiabertos com a súbito ; embora não totalmente inesperado ; declínio de um quinteto que começou o século como menina-dos-olhos de analistas financeiros e pensadores ditos ;alternativos;. Um deles, o historiador britânico Perry Anderson, analisou recentemente os ;apuros; dos cinco, vistos como possível motor para a retomada da economia mundial em meio à crise iniciada em 2008 com a quebra do mercado financeiro americano. ;Agora, tornam-se a principal fonte de preocupação nos quartéis-generais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial;, escreveu o respeitado intelectual esquerdista.
O contraste é especialmente chocante quando se recorda que, ainda em 2011 e 2012, o Brics jogou papel importante nas Nações Unidas para bloquear os planos dos EUA e de seus aliados para obter aval a uma intervenção militar na Síria. Sob forte contestação interna, o governo brasileiro, que na época ocupava uma cadeira rotativa no Conselho de Segurança da ONU, resistiu à pressão de Washington e se absteve de aprovar uma resolução que abriria caminho ao uso da força contra o regime de Bashar Al-Assad. Rússia e China, que ocupam vagas permanentes, recorreram ao poder de veto para brecar a iniciativa ocidental.
Fim de ciclo
Uma ;tempestade perfeita; desabou sobre o bloco recém-enunciado no fim de 2014, quando os sinais de alarme econômicos soaram, quase simultaneamente, na China, na Rússia e no Brasil. Aqui, especialmente, a crise política que se seguiu à reeleição de Dilma acelerou de maneira drástica os reflexos daquilo que os analistas econômicos identificam como o calcanhar-de-Aquiles do modelo de inclusão social associado ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
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