Agência France-Presse
postado em 20/05/2016 09:13
A nova presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, a primeira mulher a ocupar o cargo, pediu nesta sexta-feira em seu discurso de posse um "diálogo positivo" com Pequim, adotando um tom conciliador diante de uma China cada vez mais hostil.Tsai, de 59 anos, venceu por maioria as eleições de janeiro, que colocaram fim a oito anos de política de aproximação com a China sob o comando do presidente em fim de mandato Ma Jing-jeou, do partido Kuomintang (KMT).
Os eleitores consideraram que Ma Jing-jeou foi muito longe e que sua política, mais que servir aos interesses de Taiwan, havia colocado em risco a soberania da ilha, que Pequim ainda considera parte de seu território.
Tsai é a líder do Partido Democrático Progressista (PDP), uma formação tradicionalmente independentista. Esta ex-professora universitária moderou o discurso do PDP, mas permaneceu firme para reforçar a posição de Taiwan, uma mensagem bem aceita pelos taiwaneses, cansados de viver à sombra da China.
O território segue seu próprio rumo desde 1949, quando os nacionalistas do KMT, liderados por Chiang Kai-shek, se refugiaram na ilha após a vitória dos comunistas de Mao Tsé-Tung. Após a morte de Chiang, Taiwan abraçou pouco a pouco a democracia.
Diante das 20 mil pessoas que acompanhavam a cerimônia diante do palácio presidencial, Tsai quis apresentar Taipei como uma força de paz.
"Statu quo"
"As duas partes que governam ambos os lados do estreito (que separa a China continental de Taiwan) têm que deixar de lado o peso da história e iniciar um diálogo positivo", disse em seu discurso depois de ter jurado o cargo.
Poucas horas após a posse, Pequim reagiu contra qualquer tentativa de avançar a uma eventual independência. "Se buscar a independência, será impossível ter paz e estabilidade no Estreito de Taiwan", advertiu o Escritório de Assuntos de Taiwan do governo chinês em um comunicado.
Desde a vitória eleitoral de Tsai, as relações voltaram a se distanciar. A China quer que Tsai assuma o consenso tácito concluído em 1992 entre Pequim e Taipé, que afirma que há "uma só China" e que cada parte pode interpretar a sua maneira.
Embora a nova presidente e o partido PDP não reconheçam este consenso de 1992, Tsai repetiu muitas vezes que manterá o "status quo". Sem se afastar de seus princípios, a dirigente destaca a importância do diálogo. "As relações bilaterais se converteram em parte integrante da construção da paz regional e da segurança coletiva", disse.
"Neste processo, Taiwan será um ;ferrenho guardião da paz; que participará de forma ativa e não estará ausente", insistiu. Sem mencionar a China, apelou, no entanto, para que a ilha coloque fim a sua independência comercial em relação ao continente e termine com "nossa antiga subordinação a apenas um mercado".
Bloqueio midiático chinês
Segundo os analistas, a nova presidente tentou em seu discurso manter um equilíbrio que tranquilize Pequim, mas sem contradizer os taiwaneses críticos à China. "Tentou dar um tom conciliador, levando em conta a falta de confiança entre as duas partes", considerou Tang Shao-cheng, cientista político da Universidade Nacional de Chengchi em Taipei. "Passou a bola ao campo de Pequim", concluiu.
Mas sem o compromisso do princípio de "uma só China", é provável que Pequim não aceite a iniciativa. "Acredito que a China não aceitará facilmente este discurso", disse Yang Kai-huang, analista da Universidade Ming Chuan de Taipei. "É difícil ser otimista a respeito das relações bilaterais", admitiu.
Na China, os meios de comunicação acompanharam de forma discreta a posse de Tsai. Os termos "Taiwan" e "Tsai Ing-wen" estavam inclusive bloqueados na rede social Sina Weibo. Para o Global Times, jornal próximo ao Partido Comunista da China, a chegada ao poder de Tsai Ing-wen marca o início de "uma nova era caracterizada pela incerteza".