Agência France-Presse
postado em 20/05/2016 12:28
O presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, fez o alerta mais sério até agora aos britânicos ao afirmar que Bruxelas não fará nenhum favor aos "desertores" da União Europeia. "Os desertores não serão recebidos de braços abertos" em Bruxelas, disse em uma entrevista publicada pelo jornal francês Le Monde nesta sexta-feira (20/5), referindo-se à possibilidade de que os britânicos decidam sair da UE no referendo de 23 de junho."Se os britânicos disserem ;não;, algo que espero que não ocorra, a vida comunitária não será como antes e o Reino Unido terá que aceitar ser considerado um terceiro Estado". Faltando pouco mais de um mês para o referendo, os partidários da permanência na União Europeia adquiriram vantagem nas pesquisas, 55% a 45%, segundo uma média de pesquisas realizada pelo instituto What UK Think.
A mensagem de Juncker é destinada a contrabalançar um argumento central dos que pedem a saída, o de que o Reino Unido poderia manter uma relação cordial com a UE, por exemplo no campo comercial ou no intercâmbio de informação em assuntos de segurança.
Os partidários do Brexit desdenham de advertências como as de Juncker, e acreditam que elas são parte de uma estratégia para gerar medo. "Acho que do Projeto Medo passaremos ao Projeto Ameaça. Me parece que Juncker está fazendo isso", avaliou em declaração à AFP, Nigel Farage, líder do UKIP, partido anti-UE. "O que você esperava? Toda sua vida foi dedicada a construir essas estruturas falsas e antidemocráticas em Bruxelas".
Boris Johnson, ex-prefeito de Londres, deputado conservador e líder dos anti-UE, criticou na terça-feira os que "preveem uma terceira guerra mundial e o afundamento da economia se formos embora".
Michael Gove, ministro da Justiça e também pró-Brexit, disse há pouco tempo que a saída "despertaria a ira de certas elites, não porque o Reino Unido esteja destinado a um futuro sombrio e pobre, pelo contrário. O que os enfureceria seria o êxito do Reino Unido fora da UE".
Cumberbatch e Keira Knightley defendem UE
O primeiro-ministro David Cameron, que defende a permanência, se cercou nesta sexta-feira do mundo da cultura nos famosos estúdios de Abbey Road, Londres, onde os Beatles gravaram seus discos, em um ato pró-UE.
Cameron não pôde evitar a tentação de recriar a famosa capa dos Beatles na qual atravessavam a rua em frente ao estúdio. O ato de Cameron coincidiu com a publicação de um manifesto a favor da UE assinado pelos atores Benedict Cumberbatch e Keira Knightley, pelo escritor John le Carré e por um total de 282 figuras britânicas da arte e da cultura.
"O Reino Unido não é apenas mais forte na Europa, é mais imaginativo e criativo. Nosso êxito artístico mundial se veria seriamente comprometido por uma saída da UE", afirmam os signatários no manifesto publicado nos jornais The Daily Telegraph e The Guardian.
"Abandonar a Europa seria um salto no desconhecido para milhões de pessoas que, em todo o Reino Unido, trabalham em campos artísticos e para milhões de outras pessoas que, aqui e no exterior, se beneficiam do crescimento e do dinamismo do setor cultural britânico", completa a carta.
Além dos já citados, entre os signatários também estão os atores Bill Nighy, Chiwetel Ejiofor, Kristin Scott Thomas, Helena Bonham Carter e Derek Jacobi; o grupo Franz Ferdinand e a cantora Paloma Faith, a estilista Vivienne Westwood e os escritores Tom Stoppard e Hilary Mantel.
Uma pesquisa com integrantes da Federação de Indústrias Criativas da Grã-Bretanha mostrou que 96% deles desejam permanecer na UE, por conta do acesso ao mercado europeu, dos subsídios, da livre circulação e da influência que isto representa.
No setor artístico, o ator Michael Caine é o nome mais famoso que se pronunciou a favor da saída da UE. Finalmente, britânicos que vivem há mais de 15 anos no exterior anunciaram que levarão à Suprema Corte a proibição de votar no referendo sobre a União Europeia, depois de perderem nesta sexta-feira a batalha na segunda instância.
Harry Shindler, um idoso veterano britânico da Segunda Guerra Mundial que vive na Itália, e Jacquelyn MacLennan, britânica residente na Bélgica, pretendem levar o caso aos tribunais, convencidos de que a restrição viola seu direito à liberdade de circulação na UE.