Com o avanço do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e a possível concretização da guinada política sinalizada pelo governo interino de Michel Temer, o Brasil entra para o rol de países sul-americanos que testemunham o declínio de forças políticas de esquerda. Passada mais de uma década desde a ascensão de lideranças com propostas progressistas ; por vezes descritas como populistas ;, o cenário desenha uma nova dinâmica regional. Para analistas consultados pelo Correio, o momento representa o fim de um ciclo marcado pela inabilidade desses governos em responder a desafios econômicos. Em um período de transição, dificuldades de consenso político podem surgir, em contraste com o pragmatismo nas relações comerciais.
A crise da gestão petista no Brasil se soma ao cenário de grave instabilidade na Venezuela, comandada por Nicolás Maduro, ao fim da era kirchnerista, na Argentina, e à troca de comando no Paraguai, que elegeu o conservador Horácio Cartes meses após o polêmico impeachment de Fernando Lugo. Enquanto a socialista Michelle Bachelet, no Chile, enfrenta denúncias de corrupção, as últimas eleições peruanas culminaram na ampliação da bancada direitista no parlamento e reduziram o segundo turno da disputa presidencial a uma briga entre dois candidatos de direita.
Na Bolívia, Evo Morales fracassou no referendo que autorizaria uma nova candidatura no próximo ciclo eleitoral, e Rafael Correa tem enfrentando duras criticas da oposição por tentar alterar as regras de reeleição, no Equador. Tabaré Vázquez, presidente uruguaio, parece ser o único político de esquerda do Cone Sul a exercer uma liderança confortável, mas seu perfil é tido como mais moderado que o do antecessor, José Mujica.
Para Alcides Costa Vaz, professor de relações internacionais e especialista em integração regional da Universidade de Brasília (UnB), o enfraquecimento das lideranças esquerdistas representa o fim de um ciclo. ;Há o esgotamento de um modelo de desenvolvimento e de uma proposta política;, pondera.
Enquanto Vaz ressalta que, a despeito das diferentes dinâmicas entre os países, os casos de enfraquecimento dessas lideranças coincidem com ;desacertos; na condução macroeconômica, Alberto Pfeifer, membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (Gacint/USP), ressalta que os movimentos que chegaram ao poder na região com a bandeira da justiça social acabaram caracterizados ;pelos casos de corrupção e pelo aparelhamento de Estado;.
Quebradeira
Pfeifer observa que o enfraquecimento desses governos coincide com o fim de um ciclo econômico marcado pela alta nos preços das commodities agrícolas, minerais e energéticas, que permitiu o acúmulo de riquezas e o financiamento de programas sociais. ;Com o fim desse dinheiro, e como esses governos populistas tiveram uma péssima gestão das contas públicas, eles se viram quebrados e não conseguiram dar sustentação ao modo de fazer política ao qual estavam acostumados;, avalia.
Nesse cenário, lideranças mais conservadoras têm ganhado espaço na região. ;É um momento que favorece a convergência desses governos, e podemos observar visões mais pragmáticas em termos comerciais;, destaca Luis Fernando Ayerbe, especialista em integração regional da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
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