Agência France-Presse
postado em 24/05/2016 15:58
Istambul, Turquia - O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, alertou a União Europeia que o Parlamento turco iria bloquear a implementação do acordo migratório se nenhum progresso for feito sobre a isenção de vistos para os seus compatriotas.
Essa ameaça é feita em meio a uma deterioração nas últimas semanas das relações entre Ancara e Bruxelas, particularmente sobre o bloqueio dos vistos e a situação dos direitos humanos na Turquia, onde Erdogan busca fortalecer seu poder.
Se nenhum resultado for obtido sobre a questão dos vistos até 30 de junho, "nenhuma decisão, nenhuma lei no contexto da implementação do acordo de readmissão (de migrantes) sairá do Parlamento da República da Turquia", afirmou Erdogan durante uma coletiva de imprensa na Cúpula Mundial da Ajuda humanitária em Istambul.
"Uma etapa deve ser superada em 30 de junho em matéria de vistos (...) Nosso ministro das Relações Exteriores e nosso ministro dos Assuntos Europeus vão manter conversações (com os europeus). Se um resultado for obtido, melhor. Se nenhum resultado for obtido, que nos desculpem", acrescentou.
O acordo sobre a liberalização até o final de junho do acesso dos turcos ao espaço Schengen está no centro do pacto sobre os migrantes, que reduziu o fluxo para a Europa.
Mas uma isenção de visto antes deste prazo final parece cada vez mais improvável, pois Erdogan se opôs a uma flexibilização da lei antiterrorista turca, uma das 72 condições estabelecidas por Bruxelas.
Na segunda-feira, a chanceler alemã Angela Merkel declarou que a isenção de vistos para cidadãos turcos que querem viajar à Europa é pouco provável ocorrer entre agora e a data limite de 1 de julho.
"Devemos fazer todo o possível para continuar negociando, pois é provável que até 1 de julho algumas coisas não sejam implementadas, como a liberação de vistos, posto que as condições ainda não foram cumpridas", declarou Merkel.
"Disse claramente que o caminho para a isenção de vistos passa por 72 pontos", destacou a chanceler alemã. "Nós escolhemos a implementação destes pontos para acordar a isenção de vistos", insistiu.
A Turquia faz da liberação dos vistos para seus cidadãos que querem viajar no espaço de Schengen uma condição indispensável para a aplicação do controverso pacto sobre migrantes.
Mas Ancara rechaça a modificação de sua lei anti-terrorista, em um ano em que a Turquia foi cenário de uma série de atentados violentos ligados ao conflito curdo ou atribuídos ao grupo extremista Estado Islâmico (EI).
A União Europeia teme, por sua vez, que a legislação turca, cuja definição de "propaganda terrorista" é considerada ampla demais, seja usada para perseguir a oposição.