Agência France-Presse
postado em 03/06/2016 15:57
Alepo, Síria - A cidade de Aleppo estava novamente nesta sexta-feira (3/6) sob o inferno dos bombardeios, que deixaram dezenas de mortos, enquanto o regime sírio autorizou o fornecimento de ajuda humanitária por comboios terrestres em 12 zonas sitiadas ao longo do mês de junho.
Ao menos 38 civis morreram nesta sexta-feira na segunda maior cidade da Síria em bombardeios do regime contra os bairros rebeldes e seus arredores, informou a Defesa Civil, nos ataques mais violentos em 10 dias.
"Bombardeios aéreos com uma intensidade louca atingiram a cidade durante a madrugada", afirmou um correspondente da AFP na região.
Os ataques foram tão violentos que a oração de sexta-feira foi cancelada em um bairro da zona leste.
De acordo com a Defesa Civil, 28 civis morreram após o lançamento de dezenas de barris de explosivos, uma arma de destruição denunciada pelas ONGs. Outros 10 morreram quando aviões do regime atacaram um ônibus que circulava pelos arredores de Aleppo, na estrada de Castello, a única via que permite a saída das áreas controladas pelos insurgentes.
A ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) confirmou que bombardeios intensos contra a estrada de Castello mataram "ao menos 25 civis", incluindo seis crianças.
Zona leste de Aleppo, ;cercada;
"A estrada de Castello está bloqueada de fato porque qualquer movimento é vigiado, seja de ônibus ou pedestres", disse AFP Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH.
"Isto quer dizer que os bairros rebeldes estão totalmente cercados", advertiu.
Ele afirmou que o regime não deseja apenas atemorizar a população para impedir a circulação, e sim mostrar aos civis das zonas rebeldes "que a única porta de saída são os bairros sob seu controle".
Aleppo, antiga capital econômica da Síria e segunda maior cidade do país, está dividida em bairros controlados pelos rebeldes, na zona leste, e distritos administrados pelo governo, na zona oeste.
Disparos de foguetes contra os bairros da zona oeste deixaram vários feridos nesta sexta-feira, afirmou Abdel Rahman.
O aumento da violência em Aleppo aconteceu poucas horas antes de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU em Nova York para tentar encontrar uma maneira de ajudar os habitantes desesperados das localidades cercadas na Síria.
Ajuda aérea, uma operação complexa
As Nações Unidas confirmaram que a Síria autorizou o fornecimento de ajuda humanitária por comboios terrestres em 12 zonas sitiadas ao longo do mês de junho.
O regime de Damasco também autorizou um fornecimento de ajuda limitada em três outras zonas. Ele, no entanto, rejeitou esse acesso à ajuda em duas outras zonas, indicou o escritório de operações humanitárias da ONU.
De acordo com a ONU, quase 600.000 pessoas vivem em 19 zonas ou localidades cercadas, principalmente por tropas do governo, e quase quatro milhões em áreas de difícil acesso. Muitas sofrem de desnutrição.
A França, que preside o Conselho de Segurança para o mês de junho, havia pedido poucas horas antes para que a Rússia pressione seu aliado sírio para facilitar o acesso da ajuda humanitária por via rodoviária, sendo esta a maneira mais eficaz de prestar ajuda segundo as Nações Unidas.
Diplomatas também informaram nesta sexta-feira que a ONU pediu no domingo a aprovação do regime sírio para levar ajuda por via aérea.
As grandes potências tinham acordado no mês passado que, se a ajuda humanitária continuasse a ser bloqueada, a ONU passaria a lançar ajuda por via aérea a partir de 1; de junho.
,as o enviado especial adjunto da ONU para a Síria, Ramzy Ezzeldin Ramzy, afirmou que a ajuda aérea não é iminente, porque a operação é muito complexa em um país em guerra e depende da autorização do governo.
De acordo com o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, o transporte da ajuda precisará mais de helicópteros do que de aviões.
"Nas zonas urbanas, os lançamentos por avião não são possíveis. Cada helicóptero transportaria quase três toneladas e teria que pousar para descarregar", disse.
Na Síria, onde a guerra que começou em 2011 provocou 280.000 mortes e obrigou o deslocamento de milhões de pessoas, a possibilidade de uma ajuda humanitária aérea fica ainda mais complicada pela presença de aviões russos, sírios e da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.