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Funeral público de Muhammad Ali será na sexta-feira, em Louisville

O ex-presidente americano Bill Clinton, o ator Billy Crystal e o jornalista esportivo Bryant Gumbel se revezarão no discurso fúnebre.

Agência France-Presse
postado em 04/06/2016 16:32
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Phoenix, Estados Unidos -
A lenda americana do boxe Muhammad Ali, um ícone do século XX cuja vida e carreira de mais de três décadas transcenderam o mundo do esporte, faleceu na noite de sexta-feira, aos 74 anos, em um hospital de Phoenix (Arizona). "Após 32 anos de luta contra o Mal de Parkinson, Muhammad Ali morreu aos 74 anos", disse seu porta-voz, Bob Gunnell.

[SAIBAMAIS]O funeral público de Ali será na sexta-feira em Louisville, Kentucky, sua cidade natal, informou Gunnel. O ex-presidente americano Bill Clinton, o ator Billy Crystal e o jornalista esportivo Bryant Gumbel se revezarão no discurso fúnebre.

Na quinta-feira, um funeral íntimo para a família precederá o ato público, informou o porta-voz a jornalistas em Scottsdale, Arizona.

A morte de Muhammad Ali foi lamentada por presidentes, políticos, empresários, ativistas sociais e pessoas humildes, uma prova do impacto provocado por ;The Greatest; (O Maior), como ele mesmo se definiu durante carreira, uma designação que se provou verdadeira com suas ações.


"Muhammad Ali era o Maior. Ponto final", sentenciou o presidente americano Barack Obama, em vibrante homenagem.

Aos poucos, as ruas ao redor do Scottsdale Healthcare Osborn Medical Center começaram a receber fãs, após o anúncio da morte do grande campeão dos pesos pesados. Como em uma noite de combate, as pessoas se aproximaram do hospital para aplaudir e recordar o legado de Ali.

O mesmo aconteceu na sua cidade natal de Louisville, no Kentucky, onde uma cerimônia em sua homenagem foi organizada pelo prefeito Greg Fisher, que saudou "um homem de ação e de princípios".

Um justo retorno para o campeão que sofreu na pela a discriminação racial quando era garoto, nos tempos da segregação nessa cidade no interior dos Estados Unidos.
Não ao Vietnã

O mesmo Ali que deslumbrou o mundo com seu boxe não convencional para época, suas bravatas e declarações fortes para aumentar a venda de ingressos de suas lutas, foi o homem que se negou a combater na guerra do Vietnã, "para não matar semelhantes", e se tornou um pacifista e ativista dos direitos civis.

Ele provocou um terremoto no establishment com sua forma de agir e levou o boxe a outra dimensão, o que marcou o início das lutas milionárias exibidas na TV.

Mas ao perceber que promotores inescrupulosos começaram a ficar com a maior parcela do negócio, prejudicando os boxeadores, Ali brigou nos tribunais e no Congresso americano para aprovar em 1999 a "Lei de Reforma do Boxe Muhammad Ali", que protege os direitos e o bem-estar dos pugilistas.

Suas ações dentro e fora dos ringues resultaram nas bolsas milionárias desfrutadas atualmente por muitos pugilistas com menos talento.

Floyd Mayweather, o boxeador que ganhou mais dinheiro na história do boxe, afirmou que suas grandes bolsas foram possíveis apenas porque "Ali abriu o caminho".

Cassius Clay

Nascido com o nome de Cassius Marcellus Clay Jr. em 17 de janeiro de 1942 em Louisville, Kentuck, mudou de nome para Muhammad Ali após a conversão ao islã em 1964, no calor do movimento dos direitos civis.

Seu nome original começou a ficar famoso quando conquistou o ouro olímpico em Roma-1960. Ele iniciou a carreira profissional no mesmo ano, tornando-se campeão mundial da AMB em 1964, ao derrotar Sonny Liston por nocaute no 7; round.

As dificuldades começaram cedo, já que cresceu no sul segregado dos Estados Unidos e sofreu com os preconceitos raciais e a discriminação.

Talvez por este motivo tenha abraçado o boxe e aos 12 anos descobriu seu talento para o esporte, após uma pegadinha do destino, quando sua bicicleta foi roubada.

Ali fez a denúncia do roubo e o policial que o atendeu, Joe Martin, o convenceu de que ele deveria aprender a se defender, virando seu primeiro treinador no ginásio Columbia de Louisville. Assim teve início a lenda.

Com apenas 22 anos e ainda como Cassius Clay, conquistou seu primeiro título dos pesados ao vencer Sonny Liston no dia 25 de fevereiro de 1964, em Miami, Flórida.

Clay usou sua velocidade e jogo de pernas - que marcaram sua carreira - para derrotar o lento Liston, que abandonou a luta no sexto round. Após o nocaute técnico, Clay proclamou ao mundo: "sou o maior"!

Em 25 de maio de 1965, já como Muhammed Ali, voltou a enfrentar Liston em Lewiston, no Maine, para derrubar o desafiante logo no primeiro round.

O mestre indiscutível dos pesos pesados, considerado "o maior de todos", provocou uma grande polêmica alguns anos depois nos Estados Unidos, em 1967, quando se recusou a cumprir o serviço militar e combater na guerra do Vietnã, alegando convicções religiosas.

Ele foi detido e destituído do título mundial, além de ter sido proibido de praticar boxe profissionalmente por três anos e meio.

No retorno aos ringues, Ali enfrentou Joe Frazier no Madison Square Garden.

No dia 8 de março de 1971, com 50 países transmitindo o combate em Nova York, Ali começou dominando os três primeiros rounds, mas Frazier assumiu o controle a partir do quarto assalto - com uma série de ganchos - e encurralou o adversário no final.

Frazier manteve o título por decisão unânime dos juízes, impondo a Ali sua primeira derrota profissional.

Ali só voltou a ser campeão mundial em outubro de 1974, ao conquistar os títulos da AMB e CMB, depois de vencer o grande rival George Foreman, em Kinshasa, no Zaire, hoje chamado República do Congo, por nocaute no oitavo round em uma luta que muitos consideram a maior de todos os tempos, conhecida como "Rumble in the Jungle".

Ali dançou no ringue para evitar a conhecida pegada do gigante Foreman, que disparava golpes e se cansava no sufocante calor africano diante das provocações, outra característica do lendário pugilista.

A partir do quarto round, Foreman já mostrava cansaço e começou a ser minado por uma sequência de golpes, que culminaram com o nocaute no oitavo assalto, após um gancho de esquerda que sacudiu a cabeça de Foreman e uma direita que o jogou na lona.

Outra luta antológica ocorreu em Manila, nas Filipinas, a terceira contra Frazier, que treinou intensamente para o combate realizado em outubro de 1975.

Ali começou com uma série de golpes combinados, mas Frazier aproveitou o cansaço do adversário para encaixar seus poderosos ganchos de esquerda, para dominar até o décimo assalto, quando a lenda passou a reagir explorando sua velocidade para fechar os olhos de Frazier com golpes precisos no rosto.

O treinador de Frazier, Eddie Futch, jogou a toalha no 15; round, apesar das suas objeções, e Ali venceu outro combate épico.

O título foi perdido em fevereiro de 1978, com derrota para Leon Spins, e reconquistado na revanche, em setembro do mesmo ano.

A carreira profissional de Ali terminou com uma derrota por pontos para Trevor Berbick, no dia 11 de dezembro de 1981, no Queen Elizabeth Sports Centre de Nassau. Mas nada abalou a lenda.

Apenas um homem?

"Ali era um homem do povo. Um lutador pelo povo. Adoro Muhammad Ali, foi um amigo de toda a vida. Nunca vai morrer. Seu espírito seguirá para sempre", afirmou Don King, o promotor de suas maiores lutas, como as já citadas ;Thrilla in Manila;, o terceiro combate com Joe Frazier, ou ;Rumble in the Jungle; contra George Foreman.

Em 1984 Ali anunciou ao mundo que tinha o Mal de Parkinson.

"(Deus) me deu a doença de Parkinson para mostrar que eu era um homem como os demais, que tinha fragilidades como todo mundo. É tudo o que sou: um homem", disse em uma entrevista em 1987.

Em 1996, Ali emocionou o mundo ao acender a pira olímpica dos Jogos de Atlanta, já tremendo por causa do Mal de Parkinson.

O famoso promotor e presidente da empresa Top Rank, Bob Arum, que começou a carreira no boxe com a organização em 1972 da luta entre Ali e George Chuvalo, o descreveu como algo bem maior.

"Se foi um dos grandes. Muhammad Ali transformou este país e impactou o mundo com seu espírito", disse Arum, de 84 anos.

"Seu legado será parte de nossa história por todos os tempos", completou.

"Ele esteve ao lado de Martin Luther King e Nelson Mandela, se levantou nos momentos difíceis e falou quando outros não falavam", relembrou Obama

Muhammad Ali passou os últimos anos devastado pelo Parkinson, mas nunca demonstrou sinal de desistência e iniciou uma batalha contra a doença, em mais um combate de sua vida extraordinária.

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