Embalada por uma vitória segura nas primárias de Nova Jersey, com mais de 60% dos votos, Hillary Clinton celebrou ontem a confirmação da candidatura ;histórica; pelo Partido Democrata à Casa Branca, na eleição de novembro. ;Pela primeira vez na história do nosso país, uma mulher serrá candidata à Presidência por um dos grandes partidos;, discursou a ex-secretária de Estado diante de uma plateia entusiasmada, em Nova York.
Antes mesmo de a votação ser iniciada, nos seis estados que tiveram prévias, a imprensa americana já reportava que ela tinha atingido o número mínimo de 2.383 delegados para prevalecer sobre o senador Bernie Sanders na Convenção Nacional Democrata, em julho. A campanha de Hillary volta-se oficialmente para a disputa com o candidato republicano, Donald Trump, e a fala de ambos, ontem, teve o mesmo endereço: os eleitores de Sanders. Enquanto o magnata ressaltou seu acordo com o senador na oposição aos ;acordos comerciais que lesaram o país;, a candidata democrata exaltou ;a extraordinária campanha; do rival, os ;valores e princípios; que defendeu, em nome ;do Partido Democrata e da América;.
[SAIBAMAIS]Segundo o jornal The Hill, nas próximas semanas Hillary deve fazer comícios em Ohio e na Pensilvânia, ambos considerados swing states ; estados sem preferência clara por um ou outro dos grandes partidos. Enquanto a equipe da candidata intensifica a mobilização nacional, Robby Mook, coordenador de campanha de Hillary, afirmou à rede de televisão NBC News que Sanders merece ter voz na batalha das eleições de novembro.
Diante da surpreendente capacidade de mobilização do senador e de seu apelo entre os jovens e os eleitores independentes, considerados fundamentais para a vitória em novembro, Hillary adotou posições mais à esquerda em questões como reforma tributária, salário mínimo e comércio. Apesar de reconhecer o fortalecimento da ala progressista do partido, a ex-secretária não foi capaz de contornar as críticas do concorrente sobre seus laços com grandes doadores de campanha ou sobre o apoio que deu a acordos comerciais prejudiciais à indústria americana.
Sanders
Thimothy Hagle, professor de ciência política da Universidade de Iowa, lembra que a vitória de Hillary não é surpresa para Sanders ou para os membros de sua equipe, mas destaca que a reação da ala progressista à confirmação da derrota merece atenção. ;Sanders sente que o sistema foi manipulado contra ele ou a favor de Hillary, e esse é um dos fatores pelos quais permanece na disputa;, observa. ;Se Sanders ficar feliz com a forma como seus apoiadores serão tratados durante a convenção, provavelmente apoiará Hillary e trabalhará para unir o partido. Se não ficar satisfeito, terá menos entusiasmo para apoiá-la.;
Hagle explica que o posicionamento de Sanders e de seus seguidores é importante para a campanha, pois uma parcela considerável dos democratas não é apaixonada por Hillary, especialmente entre os jovens. ;Eles tendem a comparecer menos às urnas que os mais velhos e costumam participar quando estão entusiasmados com um candidato. Por isso foram tão importantes para o sucesso de Sanders;, pondera. ;Não me parece que migrarão facilmente para a campanha de Hillary.;
Paul Pierson, professor de ciência política na Universidade da Califórnia-Berkeley, acredita que os apoiadores do senador engrossem as fileiras da candidata democrata, mas salienta que intensidade desse movimento dependerá do quanto Sanders marcará diferenças com ela. Pierson destaca que as primárias da Califórnia tinham importância especial para garantir uma base unificada. ;Um resultado negativo aumentar a probabilidade de conflito no partido e atrasa a consolidação do apoio em torno de Hillary;, analisa.
Para Hagle, a dificuldade da ex-secretária será superar a imagem de uma representante do establishment. A oposição a Donald Trump, no entanto, pode ajudá-la a ganhar votos. ;Trump será um alvo fácil, e Hillary pode energizar a base e atrair apoiadores de Sanders ao demonizar o republicano o máximo possível;, argumenta.
Outro fator favorável à campanha da democrata é o anúncio de apoio que deve ser feito nos próximos dias por Barack Obama. O mandatário presidente chega ao fim do mandato com aprovação de 51%, segundo o Instituto Gallup, e sua indicação é aceita por uma clara maioria. ;Ele pode ajudar a energizar a base e a seduzir independentes de uma maneira que Hillary não foi capaz. Ele também ajudaria a minimizar qualquer efeito negativo ou problemas com apoiadores de Sanders;, avalia Hagle.
O peso dos cardeais
Saiba quem são e o que podem os superdelegados à Convenção Democrata
Composição
Os superdelegados representam cerca de 15% do total de delegados à
Convenção Nacional Democrata. Segundo contagem da agência de notícias americana Associated Press (AP), seriam 714. O Partido Democrata
não divulgou uma lista oficial.
Quem são
Os políticos do partido que ocupam cargos eletivos são automaticamente superdelegados: 20 governadores de estados e territórios, o prefeito de Washington (DC), 45 senadores e 193 deputados. A eles somam-se mais de 400 integrantes do Comitê Nacional Democrata (DNC, em inglês). Também têm o status cerca de 20 ;notáveis;, categoria que inclui o presidente Barack Obama; o vice, Joe Biden; os ex-presidentes Bill Clinton e Jimmy Carter; e os antigos presidentes do DNC.
Voto
O voto dos superdelegados não é oficial até a convenção, marcada para 15 a 28 de julho na Filadélfia. Até lá, eles são livres inclusive para alterar as disposições que tenham declarado. Depois de consultar os poucos superdelegados que ainda não haviam se comprometido, a agência de notícias AP anunciou ontem que 571 apoiam Hillary Clinton e 48 fecham com o senador Bernie Sanders. Com essa configuração, Hillary já teria os votos necessários para garantir a indicação à Presidência.
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