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Venezuela em compasso de espera sobre referendo revogatório

Em meio à troca de insultos, os governistas (meia centena instalados diante da entrada principal do CNE) lançaram pedras contra os opositores, desencadeando um confronto que deixou vários feridos

Agência France-Presse
postado em 10/06/2016 12:21
Depois de uma semana de protestos e de convulsão social pela escassez de alimentos, a oposição venezuelana esperava nesta sexta-feira (10/6) a convocação por parte das autoridades eleitorais da ratificação das assinaturas visando a um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.

Apesar de o Conselho Nacional Eleitoral, acusado pela oposição de ser aliado do governo, não ter convocado uma coletiva de imprensa para anunciar a data, um de seus cinco reitores, Luis Emilio Rondón, assegurou que informará nesta sexta a data para a confirmação das assinaturas, possivelmente entre 20 e 24 de junho.

"Finalmente! A validação de nossas assinaturas, segundo o CNE, acontecerá entre 20 e 24 de junho", celebrou o ex-candidato presidencial Henrique Capriles, principal promotor do referendo da coalizão opositora Mesa de la Unidad Democrática (MUD), que controla o Parlamento. O anúncio será feito em um momento de tensão crescente.

Partidários da oposição e do chavismo se enfrentaram na noite de quinta-feira (9/6), em uma briga - que incluiu socos e pedradas - registrada nas imediações do CNE, no centro de Caracas, onde 150 opositores, entre eles trinta deputados, chegaram exigindo planilhas para a coleta de assinaturas.

Em meio à troca de insultos, os governistas (meia centena instalados diante da entrada principal do CNE) lançaram pedras contra os opositores, desencadeando um confronto que deixou vários feridos.

Os simpatizantes da oposição também responderam com pedradas e enfrentaram os governistas com socos, levando à mobilização pela Guarda Nacional de um cordão que os separou momentaneamente, antes de os chavistas o romperem, obrigando seus adversários a se dispersar.



O líder da bancada opositora na Assembleia Legislativa, Julio Borges, foi atacado por militantes chavistas, que o socaram, chutaram e atingiram com um cano. O político saiu ensanguentado. Perto do CNE se localiza a sede do Parlamento - controlado pela oposição -, cujos arredores foram militarizados para evitar que a revolta se estendesse a este setor.

[SAIBAMAIS]"Apesar da emboscada madurista, expedimos o documento que exige que o CNE entregue os formatos para iniciar a coleta de assinaturas" destinadas a reativar o referendo, escreveu no Twitter o secretário-executivo da coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD), Jesus Torrealba.

O presidente Maduro culpou a oposição pelos confrontos e ameaçou prender todos os "provocadores". "Condeno a violência ocorrida hoje no centro de Caracas, produto da ação da direita, e peço ao povo que não ceda às provocações", disse Maduro durante uma manifestação diante do Palácio Presidencial em apoio aos programas sociais do governo.

Maduro - que enfrenta uma onda de protestos devido a profunda crise que afeta a Venezuela - reafirmou que a oposição quer gerar uma "espiral de violência nas ruas" para derrubá-lo, e exortou seus partidários a manter a calma porque o país "vai seguir em paz, apesar deles".

A oposição impulsiona esta consulta e uma emenda constitucional que encurte o mandato de Maduro (2013-2019), além de mobilizações populares. O referendo revocatório pode ser ativado na metade do período de Maduro, completada este mês, e para ser convocado são necessárias as assinaturas de 20% dos eleitores, quase quatro milhões.

Líderes opositores esperavam que o CNE publicasse na quarta-feira o mapa do caminho do referendo, depois de ter sido anunciado na terça-feira que, das 1,8 milhão de assinaturas, 1,3 milhão são válidas, seis vezes mais que as 200.000 exigidas por lei para ativar a consulta. Segundo as pesquisas, de seis a sete em cada dez venezuelanos é favorável a uma mudança de governo. Para revogar o mandato de Maduro, a oposição precisa de mais de 7,5 milhões de votos, com os quais foi eleito em 2013 após a morte de Hugo Chávez.

A discussão sobre o referendo ocorre tendo como pano de fundo uma crescente tensão social e protestos que se tornaram cotidianos, diante do agravamento da escassez de alimentos e remédios e da alta do custo de vida. A inflação é a mais alta do mundo: 180% em 2015 e o FMI prevê 700% para o encerramento deste ano.

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