Quase 40 pessoas ficaram feridas, e mais de 50 foram detidas, nesta terça-feira (14/6), em uma grande manifestação em Paris contra a reforma trabalhista promovida pelo governo francês.
O Palácio do Eliseu já se encontra sob forte pressão, após o atentado extremista cometido na véspera em plena Eurocopa.
Centenas de manifestantes encapuzados e policiais entraram em confronto pouco depois do início dessa manifestação, a nona organizada pelos sindicatos desde março.
Os confrontos na capital deixaram 40 feridos - 11 manifestantes e 29 policiais -, além de 58 detidos, segundo as autoridades. Em todo o país, houve 73 detenções.
Os manifestantes atiraram pedras, queimaram lixeiras e depredaram lojas, um hospital e um Ministério. A Polícia reagiu com jatos d;água para conter a multidão.
"Nunca vimos usarem jatos d;água. É uma loucura", denunciou um aposentado.
Os agentes também usaram gás lacrimogêneo contra os manifestantes, que responderam com projéteis, aos gritos de "Paris, de pé, levanta" e "Todo o mundo odeia a Polícia".
Desde 9 de março, já houve centenas de feridos em conflitos nas manifestações. As autoridades proibiram cerca de 130 pessoas detidas em protestos anteriores de se manifestar.
Liderados pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), os sindicatos esperam mobilizar milhares de pessoas para reafirmar sua oposição à reforma do Executivo, algo inédito contra um governo socialista desde 1981, na presidência de François Mitterrand.
Segundo a CGT, uma das três centrais que convocaram os protestos, 1,3 milhão de pessoas se mobilizaram em toda a França. Já a Polícia falou em 125.000 indo às ruas no país.
O objetivo dos sindicatos é superar o número de manifestantes de 31 de março, que somou 390.000 pessoas em 250 cidades, segundo as autoridades - ou 1,2 milhão, de acordo com os organizadores.
"Participei de todas as manifestações desde março, porque quero viver com dignidade, e não só sobreviver. Quero a retirada pura e simples [da reforma]. Isso acabará quando houver a retirada", garante Aurélien Boukelmoune, um técnico do setor de energia de 26 anos.
CGT aceita se reunir com ministra
Cerca de 50 cidades francesas também registraram protestos e incidentes. Vários manifestantes bloquearam parcialmente a circulação em Brest (oeste) e no porto de Marselha (sul).
Segundo a CGT, também há várias usinas nucleares e linhas de alta tensão cortadas na região de Paris, afetadas pela greve.
Em Paris, a Torre Eiffel foi fechada nesta terça por uma greve de funcionários e, após duas semanas de protestos, 7,3% dos funcionários ferroviários (com adesão de pelo menos um terço dos maquinistas) estão parados.
Há mais greves e manifestações previstas para os dias 23 e 28 de junho.
O dia de protesto, o primeiro concentrado em Paris, coincide com o exame da reforma trabalhista no Senado, que tem maioria conservadora e poderá acrescentar novas medidas liberais à reforma.
Em março, o governo socialista - que até o momento se nega a retirar seu texto, considerado muito liberal por seus detratores - decidiu excluir algumas das medidas mais polêmicas com a esperança de obter o apoio dos sindicatos reformistas, como o CFDT.
A reforma, a última do mandato de cinco anos de François Hollande antes das presidenciais de 2017, tem - segundo o governo - o objetivo de dar flexibilidade às empresas contra o desemprego, que se mantém perto dos 10%. Seus críticos acreditam, porém, que a nova lei aumentará a precarização dos assalariados.
O líder da CGT, Philippe Martinez, que até agora havia se negado a negociar com o governo, aceitou nas últimas horas se reunir com a ministra do Trabalho, Myriam El Khomri, na sexta-feira (17).
Nas últimas três semanas, os opositores à reforma bloquearam portos, refinarias e depósitos de combustível, obrigando o governo a recorrer às suas reservas estratégicas de petróleo.
Os protestos também têm prejudicado a imagem da França no exterior - em particular no setor de turismo, já bastante afetado pelos atentados de 2015.
Em paralelo, a ameaça extremista voltou a ficar patente com o assassinato na segunda-feira (13) de um policial e de sua companheira por um homem que havia jurado lealdade ao grupo Estado Islâmico (EI).