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PPK adota tom conciliador e tenta compor com adversários

postado em 15/06/2016 06:00


Vencedor de uma eleição suada, disputada voto a voto até as últimas urnas, o candidato presidencial do partido Peruanos Por el Kambio, Pedro Pablo Kuczynski (conhecido como PPK, a sigla com a qual batizou a própria legenda), adotou um tom conciliador e prometeu incluir representantes de outras forças em um ;governo de união;. Em 26 de julho, Kuczynski receberá de Ollanta Humala um país dividido, como retrata o resultado (49,88% dos votos) obtido pela adversária no segundo turno, Keiko Fujimori. As primeiras iniciativas do presidente eleito mostram disposição para adotar medidas de consenso, como a geração de empregos formais, a melhoria da infraestrutura e o aumento de investimentos em segurança e educação.

Para demonstrar a intenção de contemplar os interesses dos rivais, Kuczynski sinalizou que discutirá indicações para os ministérios com o Fuerza Popular (FP), de Keiko Fujimori, e com a Frente Ampla (FA), legenda esquerdista liderada por Verónika Mendoza. ;Temos de buscar as melhores pessoas do Peru, que tenham bom trânsito político, que não sejam técnicos. Eu sou um tecnocrata e preciso estar rodeado de alguns músicos que saibam tocar cajón;, defendeu.

No Congresso, o PPK tem apenas 18 das 130 cadeiras. O partido fujimorista ocupa 73 assentos, e a Frente Ampla, 20. ;Os fujimoristas podem tomar todas as decisões, salvo reformas constitucionais e a designação de algumas autoridades, como o procurador-geral;, explica a cientista política Maria Milagros Campos, da Pontifícia Universidade Católica do Peru (PUCP).

A configuração exige um esforço de PPK, mas é suavizada pela ideologia de centro-direita compartilhada com o FP. Ambos os partidos defendem visões semelhantes sobre os rumos da economia e a necessidade de fomentar investimentos nacionais e estrangeiros. Carlos Fernández Fontenoy, diretor da Escola de Ciência Política da Universidade Antonio Ruiz de Montoya, destaca que maiores discrepâncias entre eles devem ser percebidas no combate à corrupção e ao narcotráfico, dois assuntos usados por PPK, na campanha, para atacar Keiko.

Segundo Fontenoy, a maioria parlamentar do Fuerza Popular não deve comprometer a governabilidade de Kuczynski, especialmente por ser do interesse do partido a aprovação de algumas das medidas defendidas pelo presidente eleito. ;O Congresso é a instituição pública de menor prestígio no Peru;, ressalta. ;Se dedicar-se a bloquear medidas entendidas como benéficas e de urgência, o desprestígio amentará, e isso não convém a Keiko Fujimori nem a seu partido, que, seguramente, querem participar das eleições de 2021.;

Anistia
Kuczynski mantém uma carta na manga para negociar apoio parlamentar. Preso desde 2005, o ex-presidente Alberto Fujimori, pai de Keiko, sofre de câncer na garganta e foi operado cinco vezes nos últimos anos. Adversários temiam que, se chegasse à Presidência, Keiko idultasse o pai, hoje com 77 anos. O presidente eleito rejeitou a possibilidade de anistiar o ex-presidente, mas se disse aberto a discutir uma lei ampla que o beneficie, desde que inclua outros presos em condição semelhante. Fujimori foi condenado em 2009 a 25 anos de reclusão, por crimes contra a humanidade e corrupção.

O presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos (Iela) da Universidade Federal de Santa Catarina, Nildo Ouriques, vê com pessimismo a postura do presidente eleito diante dos crimes da era Fujimori. ;O terrorismo de Estado vingou durante o período, quando o Exército e paramilitares mataram milhares para derrotar o Sendero Luminoso (guerrilha de inspiração maoísta);, lembra. ;O ex-presidente Alejandro Toledo e o atual, Ollanta Humala, não criaram uma comissão da verdade. Kuczynski também não a criará, porque não é de seu interesse. O tema permanecerá intocado;, critica Ouriques.

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