O governador de Tóquio, Yoichi Masuzoe, acusado de ter utilizado dinheiro público para gastos pessoais, apresentou sua renúncia nesta quarta-feira (15/6), o que representa um novo e duro golpe para a organização dos Jogos Olímpicos de 2020. Masuzoe, de 67 anos, diretamente envolvido na preparação do grande evento esportivo internacional, já abalado por vários problemas, decidiu renunciar poucas horas antes de um voto de censura na Assembleia local. "É algo extremamente lamentável", disse Yuko Arakida, membro do comitê de organização dos Jogos de Tóquio.
Arakida lamentou a saída de uma pessoa com "verdadeiras competências linguísticas e um compromisso sentimental com os Jogos". "Isto não vai passar uma imagem positiva de Tóquio", completou Arakida. Yoichi Masuzoe comunicou sua decisão ao presidente da Assembleia da capital japonesa. A lei determina que uma eleição deve acontecer em um prazo de 50 dias para designar um substituto. Nove partidos, incluindo os que apoiaram sua candidatura em 2014, exigiam a renúncia de Masuzoe, que será efetiva em 21 de junho.
O governador estava envolvido em um escândalo de gastos desproporcionais com dinheiro público, revelados pela imprensa no fim de abril, que incluíam estadias em hotéis cinco estrelas, jantares em restaurantes de luxo e a compra de obras de arte. Um comitê de especialistas jurídicos havia considerado que vários gastos foram inapropriados, mas não ilegais.
Abandonado por todos
De acordo com a imprensa, antes de decidir jogar a toalha, o governador tentou negociar o adiamento da moção de censura, alegando que não era pertinente provocar uma nova eleição no período dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em agosto. Durante os Jogos Rio-2016, a cidade de Tóquio estará particularmente representada por ser a próxima sede do evento, em 2020.
A preparação da capital japonesa para o grande evento esportivo internacional foi marcada até o momento por alguns episódios bastante incômodos: a escolha da cidade como sede é objeto de suspeitas de corrupção, o primeiro projeto do estádio olímpico - considerado muito caro - teve que ser anulado e o logotipo inicial foi abandonado após acusações de plágio.
Masuzoe, ex-ministro da Saúde (2007-2009), cientista político, poliglota e ex-comentarista de TV, é um homem atípico no universo político nipônico. Ele assumiu o governo da capital japonesa em fevereiro de 2014, depois de disputar a campanha como candidato independente, apesar de inicialmente ter recebido o apoio do Partido Liberal-Democrata do primeiro-ministro Shinzo Abe, que desta vez retirou seu respaldo.
O governador de Tóquio comanda um centro econômico de mais de 13 milhões de pessoas e com um orçamento total de 13,6 trilhões de ienes (126 bilhões de dólares). Masuzoe sucedeu como governador o escritor Naoki Inose, que deixou o cargo depois de apenas um ano de poder, também por conta de um escândalo político-financeiro. Formado em Direito pela prestigiosa Universidade de Tóquio, Masuzoe também é um prolífico autor. Ele escreveu, traduziu e supervisionou dezenas de obras, sobre temas políticos ou históricos, que vão da democracia a Saddam Hussein, passando pela seita Aum.
Yoichi Masuzoe iniciou a carreira política em 2001, quando foi eleito para o Senado. Amante de esqui, golfe e judô, Masuzoe é conhecido por ser uma pessoa difícil e pelas muitas namoradas. Pesquisas recentes mostraram que 80% dos cidadãos de Tóquio desejavam sua saída do governo.