Agência France-Presse
postado em 15/06/2016 11:17
A França dividiu-se nesta quarta-feira (15/6) entre o recolhimento e a ansiedade, dois dias depois do assassinato de um policial e sua companheira por um extremista perto de Paris, em pleno momento de distúrbios políticos e a realização da Eurocopa.O presidente François Hollande participou de um minuto de silêncio no Ministério do Interior em memória das duas vítimas, mortas em sua casa por Larossi Abballa, de 25 anos, que reivindicou o crime em nome do grupo Estado Islâmico (EI). O momento de recolhimento e silêncio também foi observado em todas as delegacias do país e em Magnanville, cidade onde ocorreu a tragédia a a oeste de Paris.
Distante da unidade expressa após os ataques de 2015, este novo atentado provocou críticas imediatas da oposição de direita que levaram o primeiro-ministro socialista Manuel Valls a defender a ação das autoridades. Ele negou qualquer "falta de discernimento" ou "negligência" dos serviços de inteligência e contra-terrorismo no acompanhamento de Abballa, já conhecido por seu passado radical islâmico, que foi condenado em 2013 por envolvimento em uma rede jihadista.
;Outros inocentes vão morrer;
O chefe de governo previu que a França, alvo privilegiado do EI, seria atingido por novos ataques. "Outros inocentes perderão a vida. É muito difícil dizer (...) mas, infelizmente, esta é a realidade", revelou.
Sete meses após os ataques de 13 de novembro em Paris, o mais mortífero jamais cometido na França (130 mortos), o duplo assassinato de segunda-feira aconteceu um dia depois da carnificina em uma boate gay em Orlando, nos Estados Unidos, onde um homem que também disse agir em nome do EI como um "lobo solitário" - ou "soldado do califado" na terminologia jihadista - matou 49 pessoas no domingo.
O presidente americano Barack Obama e François Hollande "reafirmaram seu compromisso compartilhado para destruir o EI" na terça-feira durante uma conversa telefônica, de acordo com a Casa Branca. O chefe de Estado francês afirmou que a vigilância contra a ameaça foi "elevado ao seu nível máximo" na França, onde o medo de ataques é alimentado pela Eurocopa 2016, que acontece até 10 de julho.
Em um vídeo filmado na casa de suas vítimas e postado no Facebook, o autor do duplo assassinato de segunda-feira fez a reivindicação do crime por meio de uma mensagem assustadora. "A Eurocopa será um cemitério", proclamou, prometendo "mais surpresas" durante a competição. Nesta mensagem vista pela AFP, ele também falar em "atacar policiais, jornalistas, agentes penitenciários e rappers."
;Isso não pode mais durar;
O porta-voz oficial do EI, o sírio Abu Mohammed al-Adnani, exorta regularmente os seus apoiantes a agir contra policiais e militares dos países da coalizão que luta contra a organização na Síria e no Iraque. Em 22 de maio, ele conclamou seus partidários a cometer assassinatos durante o mês do Ramadã, que começou no início de junho.
Abballa matou a facadas o policial Jean-Baptiste Salvaing, de 42 anos, em frente a sua residência. Ele então rendeu e assassinou sua companheira Jessica Schneider, de 36 anos, antes de ser morto a tiros pela polícia. O filho pequeno do casal, de três anos e meio, e sobre o qual o assassino disse no vídeo "não saber o que fazer", sobreviveu e foi hospitalizado em estado de choque.
Tal ataque, visando alvos individuais em sua própria casa, não tem precedentes na França. Os investigadores tentam agora determinar se o assassino contou com a ajuda de cúmplices.
Três homens de 27, 29 e 44 anos foram colocados sob custódia, dois dos quais foram condenados com Abballa em 2013 por participar de uma rede jihadista no Paquistão. O nome do Abbala reapareceu no início de 2016 em uma investigação sobre uma rede que organizava partidas para a Síria.
Após o ataques, a oposição de direita pediu a criação de centros de detenção para pessoas radicalizadas não condenadas. Manuel Valls, negando qualquer "negligência", mais uma vez rejeitou este pedido. O reitor da Grande Mesquita de Paris, Dalil Boubaker, lamentou, entretanto, que extremistas possam circular "livremente na França". "Isso não pode continuar", disse ele.