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Venezuelanos comparecem à validação de assinaturas para referendo

Depois de dar seu primeiro apoio a uma consulta, 1,3 milhão de pessoas são esperadas para validar sua assinatura até a próxima sexta-feira, dentro do processo que, acreditam, levará à realização de um referendo ainda este ano

Agência Estado
postado em 20/06/2016 16:19

Caracas, Venezuela - Cansados da crise econômica, milhares de venezuelanos voltaram a fazer filas nesta segunda-feira (20), desta vez, para validar suas assinaturas e levar adiante o referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.

Depois de dar seu primeiro apoio a uma consulta, 1,3 milhão de pessoas são esperadas para validar sua assinatura até a próxima sexta-feira, dentro do processo que, acreditam, levará à realização de um referendo ainda este ano.

De bengala, Armanda Zerpa, de 59, chegou a uma seção eleitoral de Caracas para pôr sua impressão digital na máquina eletrônica. Há sete meses essa vendedora de roupas sofreu um acidente cardiovascular e viveu na pele a dificuldade para encontrar remédios.

"Queremos outro país, um bonito", disse Zerpa à AFP, depois de validar sua assinatura.



Além da saúde, Zerpa enfrenta uma precária situação econômica, porque já não consegue abastecer sua loja de roupas, nem comprar no exterior por falta de dólares - controlados com rigor pelo Estado - e pelos altos preços das passagens aéreas.

"Não estão governando bem. Não estão administrando bem o país", afirma.

A insatisfação de muitos dos 30 milhões de venezuelanos com o desabastecimento, com a inflação descontrolada e com a insegurança se tornou o motor do referendo contra Maduro.

No meio de uma dura queda de braço com a maioria parlamentar composta pela oposição, Maduro atribui a uma "guerra econômica" os males que se acumulam no país. Nesse contexto, seus adversários políticos promovem o referendo para tirá-lo do poder e convocar novas eleições.

Iniciado com a coleta de assinaturas, o processo deverá passar antes pela validação de pelo menos 200.000 rubricas para que então o Poder Eleitoral autorize a reunião de quatro milhões de rubricas.

Na primeira etapa, a oposição conseguiu reunir 1,8 milhão de assinaturas, das quais 600.000 foram invalidadas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Agora, empenha-se em conseguir realizar o referendo antes de 10 de janeiro de 2017.

Implosão social

Enquanto governo e oposição trocam acusações, os venezuelanos, que sentem a crise no bolso, estão comparecendo a um dos 300 postos de validação de assinaturas distribuídos pelo CNE em todo o país. Mais uma vez, a população enfrenta as filas que se transformaram em símbolo dos tempos ruins.

A estudante de Direito Astrid Villegas, de 21 anos, esperou por duas horas para que sua assinatura fosse validada.

Na saída da seção eleitoral, foi recebida com aplausos de ativistas da oposição. Eles aproveitaram para coletar seus dados mais uma vez, como parte do processo de controle estabelecido pela Mesa da Unidade Democrática (MUD).

"Vemos nosso futuro perdido neste momento. A única saída que os jovens têm é ir embora. Isso é uma forma de manter a luta para ter uma vida aqui", disse Villegas à AFP.

Assim como muitos signatários, essa estudante suspeita de que o governo tenta adiar, ou sabotar, um eventual referendo, apoiando-se no Poder Judiciário.

Nesta segunda (20), o líder da oposição Henrique Capriles voltou a insistir em que o referendo evitará uma implosão social na Venezuela.

"A Venezuela é como uma bomba que pode explodir a qualquer momento. Se a tensão social continuar crescendo, transbordará, como está acontecendo, e uma implosão será muito pior", declarou Capriles à imprensa nos arredores da sede do CNE.

O fato é que governo e oposição parecem estar cada vez mais distantes do diálogo promovido pelos ex-presidentes José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), Leonel Fernández (República Dominicana) e Martín Torrijos (Panamá), a pedido da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

Maduro acusa seus inimigos políticos de tentarem boicotar a aproximação, enquanto a oposição alega que o governo quer, na verdade, ganhar tempo para adiar o referendo - uma disputa que se tornou tão comum quanto as filas na Venezuela.

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