Agência France-Presse
postado em 22/06/2016 16:15
O governo da Colômbia e a guerrilha das Farc anunciaram nesta quarta-feira ter concluído um histórico acordo de cessar-fogo definitivo, que abre as portas para um pacto final de paz, que acabará com meio século de conflito armado.
O governo de Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas) "informam à opinião pública que chegamos com êxito ao acordo de cessar-fogo e de hostilidades bilateral e definitivo", afirmam as duas partes em um comunicado conjunto, sem especificar a data da entrada em vigor desse acordo.
Este pacto, que coloca um ponto final nesse conflito incluído na agenda das conversações que acontecem desde novembro de 2012 em Cuba, acrescenta um consenso sobre "deixar as armas; as garantias de segurança (para os rebeldes) e a luta contra as organizações criminais (...) sucessoras do paramilitarismo".
Ambas delegações indicaram que o acordado "será conhecido" na quinta-feira em um ato comandado pelo presidente Santos; pelo chefe máximo das Farc, Tomoleón Jiménez ("Timochenko"); assim como por representantes dos países garantidores: Cuba, com o presidente Raúl Castro, e Noruega, com o chanceler Borge Brende.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e os presidentes dos países que acompanham as negociações, Nicolás Maduro, da Venezuela, e Michelle Bachelet, do Chile, estarão presentes, acrescentou o texto.
Pouco antes do anúncio, o integrante da delegação de paz das Farc em Cuba, Carlos Antonio Lozada, escreveu em sua conta no Twitter: na "quinta-feira 23 de junho anunciaremos #OÚltimoDiaDaGuerra".
Essa hashtag ficou nos assuntos mais comentados do Twitter na Colômbia, onde figuras públicas e centenas de cidadãos parabenizavam por este avanço definitivo do processo de paz, ainda que outros também expressassem sua incredulidade.
"Sem dúvidas, é o início de uma etapa na qual essa violência organizada não vai ser o instrumento para construir uma oposição política ao Estado, é histórico nesse sentido", disse à AFP em Bogotá Jorge Restrepo, diretor do Cerac, que é um centro de acompanhamento do conflito.
"Significa o fim do conflito mais longo e sangrento do ocidente e uma nova oportunidade para apostar na democracia", apontou Angelika Rettberg, diretora dos professores na Construção de Paz da Universidade dos Andes.
A paz em menos de um mês?
Nos últimos dias, as partes aceleraram as conversações. Santos, que na véspera exigiu aos negociadores um "esforço" para conseguir um cessar-fogo definitivo, "um passo fundamental" para alcançar a paz, segundo disse, considerou na segunda-feira (20) que os diálogos podem estar finalizados no dia 20 de julho, festa nacional na Colômbia.
Santos e "Timochenko" se comprometeram em setembro de firmar a paz em 23 de março passado. No entanto, não conseguiram cumprir o prazo e nem prometeram outra data, mesmo que ambas partes tenham dito que as conversas estavam em sua reta final.
Desde julho do ano passado, a guerrilha Farc, principal e mais antiga do país, surgida de uma sublevação de camponeses em 1964, mantém um cessar-fogo unilateral, enquanto o governo suspendeu os bombardeios aéreos contra eles.
Para a desmobilização das Farc, os negociadores discutem a criação de áreas de concentração de 7.000 rebeldes, cujo desarme acontecerá sob supervisão da ONU.
No auge das negociações, o governo e as Farc firmaram diversos acordos provisórios, entre eles a luta contra o tráfico de drogas e a recuperação das vítimas. Também negociaram nas últimas semanas um escudo legal do acordo final de paz e a renúncia ao recrutamento de menores por parte da guerrilha.
Após o anúncio do acordo sobre o fim do conflito, resta entrar em consenso sobre o mecanismo de referendamento do acordo final, último ponto da agenda.
Santos quer um plebiscito, enquanto que as Farc, que antes pediam uma Assembleia Constituinte, recentemente se declararam abertas a uma consulta popular.
O conflito colombiano enfrentou durante mais de 50 anos guerrilhas, paramilitares e membros da força pública, deixando um saldo de 260.000 mortos, 45.000 desaparecidos e 6,9 milhões de desalojados.