A Turquia busca respostas e culpados para um dos atentados mais ousados dos últimos anos. A jornalista Hande Firat, da emissora de tevê Kanal D, revelou ontem que unidades da inteligência turca enviaram a todas as instituições do Estado cartas de alerta sobre um possível atentado terrorista em Istambul, cerca de 20 dias atrás. O Aeroporto Internacional de Ataturk foi um dos alvos potenciais citados nas mensagens. Enquanto isso, o governo revisava o balanço de vítimas no ataque de terça-feira contra o terminal aéreo ; 41 pessoas morreram e 239 ficaram feridas.
Por sua vez, John Brennan, diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), declarou que a carnificina em Ataturk ;certamente carrega as marcas da depravação do Estado Islâmico (EI);. Ele lembrou que o grupo não tem costume de reivindicar a autoria de atentados em solo turco, um meio de resguardar o recrutamento de extremistas. ;Se alguém acredita que o território dos EUA está hermeticamente fechado... Eu me protegeria contra isso;, advertiu. Também nos EUA, o candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, defendeu a retomada de tortura em interrogatório de suspeitos.
Para o turco Suleyman Ozeren, especialista em terrorismo e presidente do Global Policy and Strategy Institute (em Ancara), o perfil do atentado em Ataturk é praticamente a réplica das operações suicidas ocorridas no Aeroporto de Zaventem, em Bruxelas, em 22 de março passado. ;A metodologia nos oferece pistas e indícios sobre quem estaria por trás do massacre. O ataque indica a capacidade e o potencial do EI de causar dano, independentemente das perdas sofridas no Iraque e na Síria. Essa habilidade de infligir dor fornece ímpeto psicológico para o EI e energia para os simpatizantes. A curto e a médio prazos, os jihadistas realizarão mais ataques letais;, afirmou ao Correio.
Vítimas
O gabinete do premiê, Binail Yildirim, decretou ontem dia de luto nacional e determinou que as bandeiras fossem baixadas a meio mastro em todo o país e em representações diplomáticas no exterior. Entre os 41 mortos, 23 turcos e 14 estrangeiros tinham sido identificados ; 41 dos 130 feridos hospitalizados permaneciam em unidades de terapia intensiva. Os jornais locais publicaram os perfis de algumas das vítimas, incluindo o taxista Mustafa Biyikli, 51 anos; o intérprete Ertan An, cuja mulher está grávida de 6 meses; o casal Mahmut e Zeynep Cizmeciogl, que trabalhava no aeroporto; o médico tunisiano Fathi Bayoudh (foto ao lado). Ao anunciar que a Turquia estava engajada ;em uma séria investigação;, o ministro do Interior, Efkan Ala, citou o Estado Islâmico. ;Os primeiros sinais apontam para o Daesh, mas ainda não está certo;, disse, ao usar o acrônimo em árabe para a facção.
Morador de Istambul, o advogado Mehmet Mahmut Dogan, 28 anos, disse à reportagem que a cidade tenta reencontrar a rotina. ;Não foi o primeiro ataque terrorista por aqui. Então, as pessoas costumam voltar à normalidade em algumas horas. Apesar de os voos terem sido retomados em Ataturk, o tráfego nas principais vias foi reduzido;, contou. Ele não duvida que os extremistas escolheram a dedo o alvo de anteontem. ;É o terceiro mais movimentado terminal da Europa;, lembra. Mehmet também acredita no envolvimento do EI. ;A Turquia combate o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) e o EI ao mesmo tempo. Temos 800km de fronteira com a Síria. Os atentados causaram danos pesados ao turismo, mas a prioridade do governo é a segurança pública;, acrescenta.
Ele critica a postura da comunidade internacional ante a ameaça do terror. ;A Turquia luta contra o PKK há três décadas. Mas essa guerra é diferente daquela contra o EI. O mundo apoia o PKK contra o EI, mas quando os curdos atacam a Turquia, há um grande silêncio. E quando a Turquia se defende do PKK, o mundo a acusa de apoiar os jihadistas. Como disse o turco Orhan Pamuk, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura: ;Meu lindo e sozinho país;.;
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