Passada uma semana do referendo em que os britânicos decidiram sair da União Europeia (UE), estremecendo o cenário político no Reino Unido, nova reviravolta surgiu ontem na disputa pela sucessão na chefia do governo, aberta com o anúncio da demissão do primeiro-ministro David Cameron. Pouco depois de o ministro da Justiça, Michael Gove, entrar oficialmente no páreo, o ex-prefeito de Londres Boris Johnson desistiu da candidatura. A iniciativa de Gove foi considerada uma punhalada nas costas de Johnson, líder da campanha pela opção Brexit (acrônimo para British exit, ou saída britânica).
Ao lado da ministra do Interior, Theresa May, o ex-prefeito da capital era um dos favoritos a assumir a liderança do Partido Conservador, posição que acumula a chefia do governo. Ao justificar a surpreendente desistência, Johnson argumentou que foi dissuadido após consultar ;os colegas;. ;Diante da situação no parlamento, eu não posso ser essa pessoa;, disse.
Duas horas antes, Gove anunciava decisão oposta à do antigo aliado. O ministro da Justiça, que rompeu com Cameron para apoiar a campanha pró-Brexit, alfinetou Johnson. ;Eu disse reiteradamente que não queria ser premiê, mas os acontecimentos desde a última quinta-feira tiveram grande peso;, explicou. ;Cheguei, com relutância, à conclusão de que Boris não pode oferecer liderança ou construir a equipe exigida para a tarefa que se aproxima.;
A reviravolta surpreendeu os britânicos e foi comparada pelo ministro da Saúde, Jeremy Hunt, às tramas da televisão. ;Isso se parece um pouco com a série House of cards, ou talvez muitos políticos vejam Game of thrones;;, afirmou à rede de tevê Sky News.
A divisão entre os conservadores favoráveis à Brexit abre caminho para Theresa May. Embora faça duras críticas à UE, a ministra se manteve ao lado de Cameron na campanha pela permanência do Reino Unido no bloco europeu. Ela lançou a candidatura alegando ser a pessoa ideal para ;unir e governar no melhor interesse; do Reino Unido, após os britânicos terem votado pela ruptura com a UE.
May descartou voltar atrás na decisão pela Brexit. Prometeu que, se vencer, não adiantará as eleições legislativas, previstas para 2020, e esperará o próximo ano para ativar o artigo 50 do Tratado de Lisboa e iniciar a separação. ;Brexit significa Brexit;, reforçou.
Uma pesquisa divulgada ontem pelo instituto YouGov, mas realizada quando ainda se considerava a candidatura de Johnson, mostrou a ministra do Interior com maior aceitação do que o ex-prefeito entre os membros do Partido Conservador. Na sondagem, ela foi a escolhida por 36% dos entrevistados, contra 27% que declararam apoio a Johnson.
Ainda não está claro qual deve ser o impacto da candidatura de Gove na opinião pública, mas analistas destacaram a proximidade do ministro da Justiça com a ala do partido fiel às ideias da falecida ex-premiê Margaret Thatcher, que governou entre 1970 e 1990 e ainda hoje é um ícono para os conservadores. ;Questões podem surgir sobre as declarações prévias (de Gove) de que não disputaria a liderança dos tories. Também haverá preocupações sobre sua confiabilidade, depois de ele destruir as esperanças de liderança de Johnson;, observa Tom Quinn, cientista político da Universidade de Essex.
Com cinco candidatos no páreo, os membros do partido escolherão dois finalistas, que serão submetidos a votação entre os 150 mil filiados.
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