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Estado Islâmico assume tomada de reféns em restaurante em Bangladesh

Extremistas invadiram o estabelecimento com bombas, pistolas e espadas. Agência ligada à facção radical cita 24 mortos

Rodrigo Craveiro
postado em 02/07/2016 06:00


A noite agradável no Holey Artisan Bakery, restaurante tradicional situado no bairro diplomático de Gushan 2 e frequentado por diplomatas, em Daca, foi interrompida às 21h20 (12h20 em Brasília). O takbeer Alahu Akbar (;Deus é o maior;, em árabe), proferido aos gritos, foi o sinal do início do pesadelo. Assim que invadiram o estabelecimento, os terroristas ; armados com pistolas, espadas e bombas ; lançaram granadas, atiraram contra os policiais e fizeram pelo menos 20 reféns. Dois oficiais da polícia morreram durante a invasão. Pelo menos 40 civis ficaram feridos, atingidos pelos disparos e por estilhaços dos explosivos detonados. Pouco depois das 2h50 (hora local), dois reféns, um argentino e um bengali, conseguiram escapar do restaurante e foram resgatados pela Swat no prédio ao lado. O Estado Islâmico (EI) reivindicou a autoria do ataque, por meio da agência de notícias Amaq, e anunciou a morte de 24 pessoas. Mario Palma, embaixador italiano, confirmou que sete conterrâneos eram mantidos reféns.

Até o fechamento desta edição, o impasse permanecia na capital de Bangladesh e não havia confirmação oficial sobre o número de vítimas. Foi o segundo atentado cometido pelo EI em três dias. Na última terça-feira, homens-bomba mataram 44 pessoas e feriram mais de 230 no Aeroporto Internacional de Ataturk, em Istambul.

Sob a condição de não ter o sobrenome divulgado, o bengali Kazi contou ao Correio que mora a apenas 3,5km do Holey Artisan Bakery. ;É um lugar sofisticado e elegante, que abriga uma padaria, uma cozinha e uma sorveteria, geralmente frequentado por estrangeiros e bem caro. Tem um jardim frontal legal, além de um lago;, descreveu Kazi, que já visitou o restaurante. ;Nós estamos todos chocados e horrorizados com o incidente. A polícia está impondo um blecaute midiático;, acrescentou. Também morador de Daca, Zunaed se disse preocupado com a imagem secular de Bangladesh e com a segurança nacional. Ele disse não acreditar numa ação do EI. ;Esses estúpidos foram guiados por gente daqui. Isso foi feito para colocar o nosso governo numa situação desconfortável.;

Natural de Daca, Ali Riaz ; diretor do Departamento de Política e Governo da Illinois State University, nos EUA ; admitiu ao Correio que o incidente é ;profundamente perturbador e preocupante. ;A tomada de reféns é um fenômeno sem precedentes em Bangladesh. O EI havia reivindicado o assassinato de estrangeiros, principalmente de sacerdotes hindus e de monges. Mas foram atentados pontuais e individuais. Este ataque de hoje (ontem) é espetáculo e audacioso. Isso vai abalar a sociedade e fortalecer a determinação dos cidadãos em combater o terror. Espero que isso encerre a mentalidade de negação do governo;, disse.

Descentralização
Segundo o professor, ao perder territórios na Síria e no Iraque, o EI descentralizou as operações. ;Bangladesh tem se tornado alvo por causa do ambiente doméstico. Nos últimos anos, o foco mudou do contraterrorismo para a perseguição a oponentes políticos. As situações de lei e ordem deterioraram de modo significativo;, observa. Riaz culpa o jogo de acusações dos partidos políticos como fator que abriu espaço para o EI. ;É mais do que uma batalha entre o secularismo e o islamismo. O espaço para a dissidência encolheu, enquanto os assassinatos extrajudiciais aumentaram. Isso criou um ambiente favorável para que os militantes prosperassem.;

Ex-agente do serviço secreto francês DSGE, Yves Trotignon disse à reportagem que considerava ;inevitável; um atentado em larga escala no país asiático. ;Há muitos assassinatos sectários e uma disputa entre a Al-Qaeda no Subcontinente Indiano (AQIS) e o Estado Islâmico, além de execuções de professores e de militantes homossexuais;, pontuou. De acordo com ele, a recém-surgida AQIS tenta se fortalecer como ameaça no sul da Ásia, enquanto militantes locais se sentem seduzidos pelo EI. ;O Estado Islâmico se espalha por quase todos os lugares, à exceção do Sahel (na África Subsaariana);, explica. ;Ele é uma ameaça, inclusive para países muçulmanos. A Al-Qaeda não está morta, mas nunca foi tão perigosa quanto o EI.;

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