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Casa Branca nega vínculo terrorista em assassinato de policiais

Franco-atirador é morto por robô-bomba. Testemunha conta como foi salva por agente

Rodrigo Craveiro
postado em 09/07/2016 06:00

Policial tenta acalma mulher após tiroteio no centro de Dallas: manifestantes contaram ter escutado mais de 30 tiros e relataram cenas de pânico

Ao receber o Prêmio Nobel da Paz, em 1964, o ativista Martin Luther King Jr. afirmou que ;a não violência é a resposta para questões políticas e morais cruciais;. ;O homem deve evoluir para todo o conflito humano um método que rejeite a violência, a agressão e a retaliação;, declarou. Mais de meio século depois, os Estados Unidos viveram na noite de quinta-feira cenas dignas de uma guerra civil, que comprovaram o fosso racial no qual a sociedade mergulha. Um protesto contra as mortes dos afro-americanos Philando Castile e Alton Sterling, assassinados pela polícia em Falcon Heights (Minnesota) e em Baton Rouge (Louisiana). Ao menos um franco-atirador armou uma emboscada, matando cinco policiais e ferindo sete, no centro de Dallas, a apenas alguns quarteirões do Dealey Plaza, onde o presidente John F. Kennedy foi morto, em 22 de novembro de 1963. Dois civis também foram baleados no atentado de ontem. Foi o maior número de baixas entre policiais desde os atentados de 11 de setembro de 2001. A Casa Branca negou vínculo terrorista.


O atirador, identificado como Micah Xavier Johnson, foi abatido com uma bomba detonada por um robô. Três outros suspeitos estão detidos. ;Nós tivemos uma troca de tiros com o suspeito. Não vimos nenhuma outra opção e tivemos que usar o nosso robô-bomba;, disse o chefe de polícia de Dallas, David Brown. ;O suspeito afirmou que estava decepcionado sobre o (movimento) Black Lives Matter (;Vidas de negros importam;). (;) O suspeito afirmou estar decepcionado com brancos e que queria matar pessoas brancas, especialmente policiais brancos.;

A execução em série comoveu o país e o mundo. O atentado ocorreu horas depois de um pronunciamento em que Barack Obama havia criticado o assassinato dos afro-americanos Alton Sterling e Philando Castile, durante abordagens policiais. Em visita a Varsóvia, onde participa de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o presidente dos EUA condenou as execuções e ordenou que as bandeiras do país fossem baixadas a meio mastro. ;Houve um ataque cruel, calculado e desprezível à aplicação da lei. Não há nenhuma justificativa possível para esses tipos de ataques, ou qualquer violência contra a aplicação da lei. A justiça será feita. (;) Eu acredito que falo por todos os americanos quando digo que estamos horrorizados.;

O fotógrafo Teshorn Jackson, 36 anos, e a mulher, Reytheda, se viram surpreendidos pelos tiroteios enquanto participavam do protesto. ;Eu vi caos, pessoas corriam por suas vidas, algumas choravam. Elas gritavam por medo. Algumas clamavam: ;Eles estão atirando!’ Pais procuravam seus filhos, após terem sido separados;, contou ao Correio. ;Eu não vi os atiradores, apenas escutei os disparos. Fiquei aterrorizado, minha esposa tinha se perdido. Levei uns dois minutos para encontrá-la. Ela tentou correr até nosso carro, mas era exatamente ali que o atirador se encontrava.;

Pela internet, o empresário Lynn Earl Mays, 46, relatou ao Correio que foi salvo por um policial. ;Os tiros começaram de lugar nenhum. Eu pudia ouvir as balas voando sobre nossas cabeças. Um policial que estava próximo me puxou para fora da linha de tiro. Então, eu o escutei dizer ;Policial abatido; e percebi que um de seus colegas tinha sido assassinado. Se ele não tivesse me tirado do caminho, eu teria sido atingido também;, afirmou. Ismael DeJesus fez um vídeo enquanto estava escondido no Crown Plaza Hotel. ;Pareceu uma execução, para falar honestamente. Ele (Micah) parou sobre ele depois que (o policial) já estava no chão. Atirou talvez três ou quatro vezes nas costas;, disse.

Apelo à união
Mike Rawlings, prefeito de Dallas, apelou pela união. ;Nós, como cidade, como país, devemos agora nos unir, fechar fileiras e curar as feridas que sofremos de tempos em tempos. As palavras ficarão para mais tarde;, disse. À tarde, uma vigília ecumênica reuniu milhares de pessoas na Thanksgiving Square. O chefe de polícia foi efusivamente aplaudido e não escondeu a emoção. ;Nós estamos determinados a não deixar que essas pessoas nos roubem a democracia. Obrigado pelo apoio;, declarou Brown.

Autor de Racist America (;América racista;, pela tradução livre) e professor de sociologia da Texas A University, Joe Feagin vê o atentado como mais um tiroteio em massa perpertrado por um atirador solitário. ;Ele era um veterano do Exército aparentemente nervoso com as mortes de negros ao longo do ano. As armas de assalto são fáceis de se obter nos EUA;, explicou ao Correio. O estudioso admite que a tensão racial entre cidadãos negros e policiais brancos aumentou em várias regiões. ;A brutalidade policial tem sido uma manteira de manter os afro-americanos ;em seu lugar; desde o século 19. As más práticas da polícia deflagraram grandes levantes negros entre as décadas de 1960 e 1970. Então, essas tensões não são novas;, comentou. Feagin não descarta que os agentes respondam à emboscada com mais policiamento rígido em comunidades negras.

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