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Chanceler Delcy Rodríguez critica Brasil e Paraguai em reunião ministerial

Caracas exige assumir presidência pro tempore

Rodrigo Craveiro
postado em 12/07/2016 06:00

Caracas exige assumir presidência pro tempore


A chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, causou constrangimento, ontem, durante a reunião emergencial do Mercosul, em Montevidéu. Mesmo sem ser convidada, a ministra de Nicolás Maduro compareceu ao encontro, que discutiria o futuro de Caracas no bloco, e fez críticas aos representantes de Brasil e Paraguai. Rodríguez garantiu que a Venezuela assumirá a presidência rotativa do Mercosul ;em alguns dias;. ;Venho com expectativas muito boas;, declarou ela, antes de entrar na sede da chancelaria do Uruguai. ;Como estabelecem os protocolos, nós recebemos automaticamente a presidência deste órgão subregional;, acrescentou.

Foi prontamente desmentida pelo colega uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, e do vice-ministro das Relações Exteriores da Argentina, Carlos Foradori. ;Em poucos dias, nós (Uruguai) faremos a passagem da presidência pro tempore do Mercosul. Sobre isso, formou-se uma grande polêmica, que estamos discutindo, analisando e tratando com o maior dos respeitos e a maior das profundidades;, assegurou Novoa.

Tanto o Brasil quanto o Paraguai se opõem a que o comando do bloco seja transferido para o governo de Nicolás Maduro, sob a justificativa de que a Venezuela enfrenta grave crise política. Segundo o jornal El Universal, Delcy Rodríguez foi irônica ao responder a uma pergunta sobre como via a postura do Brasil ; o Itamaraty defende postergar a transferência da presidência pro tempore do Mercosul até o próximo mês. ;Nós não devemos atender aos maus modos da direita. Temos de atender às normas;, declarou.

Sem ser recebida pelos participantes do encontro em Montevidéu, a ministra disse que ;o chanceler do Paraguai (Eladio Loizaga) e o vice-chanceler do Brasil (Marcos Galvão, secretário-geral do Itamaraty) se esconderam no banheiro para não se encontrarem com a Venezuela;. Loizaga procurou responder no mesmo tom: ;Se estivemos no banheiro foi porque a necessidade fisiológica nos chamou;. O tom nada diplomático dos ministros pontuou as profundas divisões dentro do Mercosul, o qual enfrenta uma das piores crises desde a sua fundação, em 1991. A reunião em Montevidéu terminou sem acordo. Existe a expectativa de que uma decisão sobre a Presidência do bloco seja anunciada até a quinta-feira. ;Cada um dos países está mantendo a sua posição;, disse Nin Novoa. ;Nos demos um prazo até a próxima quinta-feira, para que se façam consultas necessárias entre todos os países.; De acordo com ele, as consultas devem ocorrer entre os próprios presidentes dos países-membros.

Desgaste
O venezuelano Jose Vicente Carrasquero Aumaitre, professor de ciência política da Universidad Simón Bolívar (em Caracas), lembrou ao Correio que Rodríguez não é diplomata de carreira. ;Ela não avalia o quão prejudicial é a situação imposta com o seu comparecimento a uma reunião para a qual não foi convidada. Em todo caso, põe em evidência a preocupação do governo venezuelano de ser julgado pelos próprios pares do Mercosul por operar fora dos parâmetros democráticos. Isso teria impacto negativo na imagem desgastada do governo de Maduro;, analisou.

Aumaitre espera uma resposta similar àquela dada ao Paraguai, após a destituição do presidente Fernando Lugo ; Assunção chegou a ser suspensa do Mercosul, em 29 de junho de 2012, e somente foi reconduzido em 19 de dezembro de 2013. ;Na Venezuela, existe uma evidente ruptura da ordem constitucional, e isso não pode continuar a ser ignorado pelos governos da região;, comentou o especialista.

O coordenador do partido opositor Voluntad Popular, Carlos Vecchio, publicou em seu perfil no Twitter que ;o Mercosul não pode estar presidido por um governo antidemocrático como o de Nicolás Maduro;. ;A Venezuela não pode pedir que cumpram com a norma que estabelece a entrega da presidência do Mercosul se não cumpre com a norma que fala da democracia;, criticou.

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