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Obama condena "ódio racista" presente em ataque aos cinco policiais nos EUA

Presidente não conteve as lágrimas e destacou coragem dos agentes

Rodrigo Craveiro
postado em 13/07/2016 06:00

Presidente não conteve as lágrimas e destacou coragem dos agentes


Durante 46 minutos e diante de familiares dos cinco policiais mortos por um franco-atirador em Dallas, Barack Obama, falou sobre racismo, pregou o amor e chorou. Atrás do púlpito com o selo da Presidência dos Estados Unidos, o estadista deu lugar ao laureado com o Nobel da Paz. Além de uma homenagem às vítimas, o discurso no Centro Sinfônico Morton H. Meyerson, em Dallas, teve o objetivo de curar as feridas abertas pelo racismo na sociedade dos Estados Unidos. ;As relações raciais melhoraram de forma dramática em minha vida. Aqueles que negam isso desonram as batalhas que nos ajudaram a atingir esse progresso. Mas, América, nós sabemos que o preconceito continua. Sabemos disso;, declarou.

Segundo Obama, o atentado em Dallas ;não é apenas uma violência demente, mas um ódio racista;. Ele destacou a coragem dos agentes, que sacrificaram as próprias vidas para evitar uma tragédia pior. ;Quando as balas começaram a voar, os homens e mulheres da polícia de Dallas, eles não vacilaram, e não agiram de modo imprudente. (;) Hoje, lamentamos as mortes de menos pessoas por causa de sua ousadia;, disse.
O primeiro presidente afro-americano da história dos EUA reconheceu que a discriminação permeia várias esferas da sociedade. ;Se você é negro, você terá mais chances de ser abordado, revistado ou preso; terá probabilidade de ter sentenças mais altas; e mais probabilidade de pegar a pena de morte pelo mesmo crime;, lamentou. Para o mandatário, o fato de isso ocorrer meio século depois da aprovação da Lei de Direitos Civis não permite que a sociedade vire as costas e considere os participantes de protestos pacíficos como encrenqueiros ou paranoicos.

Obama voltou a criticar o livre acesso às armas nos EUA. ;Nós lotamos as comunidades com tantas armas que é mais fácil para um adolescente comprar uma Glock do que colocar suas mãos em um computador ou mesmo em um livro;, afirmou, ao se referir a uma marca de pistola automática. ;Muito das tensões entre a polícia e as minorias às quais ela serve é porque pedimos à polícia para fazer muito e pedimos muito pouco de nós mesmos;, acrescentou. Ele defendeu que o país precisa forjar o consenso e encontrar o desejo de mudança. ;Podemos encontrar a cura, enquanto americanos, para abrir os nossos próprios corações? Podemos ver o próximo como um ser humano comum? (;) Com o coração aberto, podemos aprender a nos colocar no lugar do outro e ver o mundo através dos olhos do outro;, sugeriu.

Ao homenagear os cinco policiais mortos, Obama citou os nomes de Patrick Zamarripa, Brent Thompson, Michael Smith, Michael Krol e Lorne Ahrens. ;Como policiais em todo o país, esses homens e suas famílias compartilhavam um compromisso de fazer algo maior do que eles mesmos... A recompensa veio em saber que nosso modo de vida inteiro na América depende do Estado de direito; que a manutenção da lei é um trabalho duro e diário; que em nosso país não temos soldados nas ruas ou milícias impondo as regras. Em vez disso, temos servidores públicos, policiais, como os homens que foram tirados de nós;, comentou.

Heróis
Além do vice-presidente, Joe Biden, do ex-presidente George W. Bush e de autoridades locais, o memorial contou com a presença de Shetamia Taylor, uma dos dois civis feridos pelo franco-atirador Micah Xavier Jonhson. ;Esta é a América que conheço. A polícia ajudou Shetamya Taylor, após ela ser baleada enquanto tentava proteger seus quatro filhos. Ela disse que desejava que os seus garotos se unissem a ela, em protesto contra os assassinatos de homens negros. Ela também agradeceu ao Departamento de Polícia de Dallas por ter heróis. E, hoje, o filho de 12 anos quer ser um tira quando crescer. Essa é a América que conheço.;

Kavion Washington, 18, um dos quatro filhos de Shetamya, elogiou a postura de Obama. ;É o que se deve esperar de um presidente. A nação está em crise e era importante que ele abordasse o tema e estivesse aqui para apoiar Dallas nesse momento;, disse ao Correio. O rapaz, que estava no protesto da última quinta-feira, admitiu que a tensão racial não é algo novo. ;Ela faz parte da linhagem deste país. É algo desanimador, que torna difícil caminharmos pelas ruas e nos sentir seguros. O movimento Black Lives Matter trabalha para reduzir (;As vidas dos negros importam;, pela tradução livre) essa tensão e derrubar o racismo sistêmico.;

O ex-presidente George W. Bush também citou cada um dos cinco policiais e disse que eles são a inspiração para a nação. ;Nós, americanos, temos uma grande vantagem: para renovar nossa unidade, nós apenas precisamos de lembrar nossos valores. Nós nunca fomos mantidos coesos pelo sangue ou pelo histórico. Nós somos ligados por coisas do espírito, por compromissos compartilhados de ideais comuns;, destacou.

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