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Hollande admite ação do extremismo islâmico e diz que país está "aflito"

Caminhão atropela dezenas de pessoas após queima de fogos em comemoração ao Dia da Bastilha, em Nice, mata pelo menos 80 e fere mais de 100

Rodrigo Craveiro
postado em 15/07/2016 06:00

Soldado diante de corpos estirados no chão e cobertos com lençóis azuis, em Promenade des Anglais: depois da queima de fogos, a barbárie


Adata escolhida: 14 de julho, o dia em que os franceses comemoram a Tomada da Bastilha, sob o slogan ;liberdade, igualdade e fraternidade;. O local: Nice, uma cidade idílica na Costa Azul, 687km a sudeste de Paris e a apenas 205km de Marselha, onde 40% da população é formada por muçulmanos. Pouco antes das 22h30 (17h30 em Brasília), milhares de turistas e moradores ainda lotavam a Promenade des Anglais, a avenida na orla do Mar Mediterrâneo. O espetáculo da queima de fogos de artifício havia terminado e muitas famílias começavam a caminhar de volta para casa e para os hotéis quando foram surpreendidas pelo terror.

Um caminhão branco, em alta velocidade, avançou sobre a multidão, matou 80 pessoas e feriu cerca de 100, diante do complexo hoteleiro de luxo Palais de la Méditerranée. O automóvel passou por cima de vários corpos e somente parou depois que a polícia executou o motorista a tiros. Christian Estrosi, governador da região, relatou à emissora BFM-TV que os agentes encontraram armas pesadas dentro do caminhão. O procurador de Nice, Jean-Michel Prêtre, disse que o caminhão circulou por dois quilômetros no meio do povo.

Até o fechamento desta edição, as autoridades não tinham divulgado o nome do suspeito e nenhum grupo extremista havia reivindicado o ato terrorista. Um grupo de promotores da Justiça antiterrorista assumiu as investigações do massacre. Uma fonte policial disse à agência France-Presse que documentos de identidade de um franco-tunisiano de 31 anos, com residência em Nice, foram encontrados dentro do caminhão. Boatos sobre a tomada de reféns em restaurantes e em um hotel agravaram ainda mais a onda de pânico.

O ataque ocorreu horas após François Hollande descartar a prorrogação do estado de emergência, válido até 26 de julho. Em viagem à cidade de Aviñon, o presidente francês retornou às pressas à capital, se reuniu com o primeiro-ministro, Manuel Valls, e com o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, e passou a chefiar uma célula de crise. Por volta das 3h50 de hoje (22h50 em Brasília), Hollande fez um pronunciamento à nação, revelou que ;há várias crianças entre os mortos;, acusou o islã radical e prometeu ;lutar contra o flagelo do terrorismo;. ;Nós não podemos negar que isso foi um ataque terrorista. (;) A França inteira está sob a ameaça do terrorismo islâmico. (;) A França está aflita com mais essa tragédia, está horrorizada com essa monstruosidade que consiste em utilizar um caminhão para matar dezenas de pessoas. A França será muito mais forte do que os fanáticos que desejam atacá-la;, declarou. Hollande anunciou a manutenção, ;no mais alto nível;, da Operação Sentinela, com a mobilização de 10 mil policiais e apelou à reserva operacional. Também recuou e decidiu prolongar o estado de emergência por 3 meses. E prometeu reforçar ;nossa ação no Iraque e na Síria;.

Pânico
Enquanto aguardava atendimento médico em um estádio de Nice, o cearense Anderson Happel, 23 anos, falou ao Correio por telefone. Parecia transtornado. ;Estávamos olhando os fogos e, cinco minutos depois, um caminhão tentou passar por cima de todo mundo. Ele vinha em nossa direção. Empurrei minha irmã com força para dentro do restaurante. Fiquei encostado no muro e o caminhão passou por cima da minha perna esquerda;, contou o técnico de enfermagem, que mora na cidade há cinco anos. ;Houve um disparo de armas, foi horrível. Todo mundo pulou e correu.; Minutos depois, ele confirmou que tinha fraturado a perna. Anderson acredita que o motorista esperou o momento em que a multidão se concetrava em um único lado da Promenade des Anglais para avançar.

Outra testemunha, que pediu para ser identificada apenas como Kristian, relatou à reportagem que caminhava com familiares na Promenade des Anglais quando escutou gritos. ;Eu me virei e vi um caminhão branco, com os faróis apagados. Algumas pessoas estavam no chão, outras tinham corrido e se escondido sob cadeiras da praia. Também teve quem buscou fugir em ruas menores. O motorista dirigia em ziguezague, com a intenção de matar. Vi muitos corpos e feridos. Parecia um cenário de guerra;, disse à reportagem.

Moradora de Londres, a cineasta iraniana Maryam Violet, 34 anos, jantava em um restaurante de frente para a praia, de onde assistia ao espetáculo pirotécnico. Ela relatou ao Correio que viu pessoas correndo na direção do estabelecimento, aos gritos. ;Depois que eu soube o que tinha ocorrido, fui até a rua para ver como poderia ajudar os feridos. Vi um monte de corpos. Tentei confortar algumas pessoas, mas não foi possível. Também presenciai pequenos corpos debaixo de lençóis, além de sangue e de gente traumatizada depois de perder familiares.; Na noite de ontem, a jornalista brasileira Liana Alagemovits estava desesperada à procura do filho Roberto, de 14 anos, que viajou com um casal de amigos para Nice.

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