Agência France-Presse
postado em 18/07/2016 10:28
Durban, África do Sul - Apesar dos "avanços significativos" alcançados na luta contra a aids, os participantes da XXI Conferência Internacional sobre a Epidemia, inaugurada nesta segunda-feira na África do Sul, insistem nos "enormes desafios" levantados pela doença, primeira causa de mortalidade dos adolescentes na África.A conferência, realizada de forma bianual, foi organizada neste ano na cidade portuária de Durban (leste), uma escolha simbólica: no ano 2000, o ex-presidente Nelson Mandela convocou na mesma cidade o trabalho pelo acesso aos tratamentos antirretrovirais para todos os doentes. Apenas um milhão de pessoas no mundo, principalmente nos países do Norte, tinham acesso a estes medicamentos no ano 2000, lembrou nesta segunda-feira a associação AIDES. "Dezesseis anos depois, já são mais de 15 milhões. Com isso foram evitadas quatro milhões de mortes", disse.
No entanto, adverte, "estes avanços não devem esconder a realidade": ainda há 38 milhões de pessoas no mundo que vivem com o vírus, a maioria na África subsaariana. "Todos os meses, 100 mil pessoas morrem de Aids e 160.000 se contagiam", segundo a AIDES, que denuncia as "desigualdades sociais inaceitáveis" que seguem ocorrendo entre países pobres e ricos.
"Na África subsaariana, mais de 2.000 jovens de menos de 24 anos se infectam todos os dias", afirmou Bill Gates, muito comprometido na luta contra a doença, na noite de domingo em Pretória, antes de viajar a Durban. "Cerca da metade das pessoas com Aids não são diagnosticadas", o que reduz suas probabilidades de sobreviver e aumenta o risco de contaminação, lembrou o multimilionário fundador da Microsoft.
A Aids continua sendo a primeira causa de mortalidade nas pessoas entre 10 e 19 anos na África, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Para conseguir erradicar a doença em 2030 - objetivo fixado pela ONU - são necessários esforços colossais, advertem as organizações não governamentais, num momento em que a vacina contra a Aids ainda não se materializou.
Sistemas de saúde saturados
Para fazer pressão sobre os 18 mil participantes que devem chegar à conferência de Durban - entre eles cientistas, autoridades políticas, doadores e personalidades como o príncipe Harry da Inglaterra ou a atriz sul-africana Charlize Theron -, nesta segunda-feira será realizada uma manifestação de doentes de Aids na cidade.
"Existe uma enorme distância entre as promessas políticas e a realidade em terra, com financiamento insuficiente e sistemas de saúde à beira da implosão", denunciaram nesta segunda-feira várias organizações especializadas e a justiça social.
A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) convocou os participantes da conferência a "colocar em andamento um plano de ação para resolver o acesso crítico ao tratamento do HIV" na África Ocidental e Central, onde as taxas de tratamento são inferiores a 30%. "Se não agirmos, as conquistas durante conquistadas na África subsaariana nos últimos 15 anos podem ser anuladas", advertiu Bill Gates.