Agência France-Presse
postado em 20/07/2016 17:22
Ancara, Turquia - A sede da polícia em Ancara, um imponente edifício de 10 andares, deveria representar a força e a ordem no país, mas agora está totalmente destruída, arrasada pelos bombardeios aéreos da noite do golpe de Estado frustrado na Turquia.
"Não sei quanto tempo levará a reconstrução. Mas já começamos", disse um responsável da Polícia à AFP, verificando o tamanho dos danos.
O chefe de Estado turco, Recep Tayyip Erdogan, retornava nesta quarta-feira (20) à capital da Turquia pela primeira vez desde o golpe frustrado para presidir uma reunião do Conselho de Segurança Nacional, enquanto continua com a eliminação de milhares de golpistas e opositores.
Os insurgentes tentaram derrubá-lo na noite de sexta-feira (15), com a ajuda de veículos blindados e aviões que atacaram os principais centros de poder na capital, do quartel-general da polícia ao Parlamento, passando pelo palácio presidencial.
A ausência de Erdogan em Ancara, capital e sede das instituições, algumas delas muito castigadas pelos bombardeios, foi bastante comentada nas redes sociais.
Vistos pelos turcos como uma representação intimidadora do poder estatal, esses edifícios foram fortemente danificados.
Após terem "sequestrado" aviões e helicópteros de ataque, os insurgentes sobrevoaram a capital a baixa altitude, aterrorizando a população com seu estrondo.
"Fomos atacados por helicópteros e caças F-16. Sobretudo depois de meia-noite a intensidade aumentou", explicou o responsável da Polícia que pediu anonimato. "Faziam uma pausa e depois voltavam com ainda mais intensidade", completou.
Trauma
A fachada do edifício policial aparece desfigurado, e o chão, coberto com uma camada de cacos de vidro que rangem sobre os degraus como neve dura.
Nos andares superiores, os mais danificados, as paredes dos escritórios explodiram. Do que restou, ainda pendem retratos do fundador da República da Turquia, Mustafa Kemal, que parece contemplar a cena.
No distrito de G;lbasi, nos arredores da capital, 42 pessoas morreram em bombardeios aéreos dos golpistas contra o quartel-general das forças especiais.
Os familiares das vítimas choravam junto com os policiais da guarda diante do edifício.
O trauma também é percebido na sede da emissora de televisão estatal, a TRT, onde os golpistas entraram e obrigaram uma jornalista a ler a declaração em que anunciavam a tomada do poder.
"Os funcionários tinham as mãos amarradas nas costas e eram obrigados a se deitar", relata um dos responsáveis da emissora, Kudret Dogandemir.
Apenas alguns dias depois, a rotina parece ter voltado ao normal, constatou a AFP.
"Matar"
O objetivo mais simbólico foi, sem dúvida, o Parlamento turco, para onde vários deputados se dirigiram após o início do golpe, proclamando seu fracasso.
O secretário-geral da Assembleia, Irfan Neziroglu, disse que compareceu imediatamente à sede do órgão com outros deputados.
"Os F-16 voavam a uma altitude muito baixa. Era um pânico indescritível", declarou.
Segundo ele, o Parlamento foi bombardeado três vezes pelos pilotos rebeldes.
O chão do local de discursos está coberto de cacos de vidro. As paredes foram derrubadas, e as portas maciças saíram das dobradiças.
Dois militares continuam fazendo a guarda apesar de tudo, vestidos com o traje de cerimônias, na entrada do prédio.
"Se uma das bombas tivesse desviado poucos centímetros, todos que estavam no Parlamento já não estariam aqui", assegura Neziroglu, frisando que "o objetivo era matar".