É com um pomposo discurso de aceitação da indicação para representar o Partido Republicano na eleição presidencial de novembro que Donald Trump deve ser coroado candidato da oposição à sucessão de Barack Obama. Depois de obter o apoio de 1.725 delegados do partido, o milionário sobe na noite de hoje ao palco da Convenção Nacional Republicana, em Cleveland (Ohio), em meio a incertezas sobre sua capacidade de unificar a base partidária e enfrentar a virtual candidata pelo Partido Democrata, Hillary Clinton. Às vésperas do pontapé oficial para a campanha à Casa Branca, o magnata do setor imobiliário foi assombrado pelo ressurgimento de uma acusação de assédio sexual.
Embora Trump tenha sido bem-sucedido em suprimir ameaças de boicote de republicanos contrários à sua candidatura, 721 delegados votaram em outros nomes para disputar a Presidência. O número de dissidentes é o mais significativo desde 1976, quando os republicanos chegaram à convenção nacional sem candidato majoritário.
Na fala desta noite, Trump tentará inflamar o eleitorado e os militantes. O tema que guia o quarto dia de encontro em Cleveland é Make America one again (Tornar a América uma novamente), e o candidato deve assumir o microfone logo depois da filha mais velha, Ivanka. Falando à rede Fox News, no início da semana, ele indicou que deve falar sobre o restabelecimento ;da lei e ordem;, além de abordar temas como segurança internacional, emprego e o programa de saúde Medicare, implantado por Obama. A programação oficial prevê que as atividades se encerrem com uma benção do bispo auxiliar emérito de Cleveland, Roger W. Gries.
Apesar de a convenção garantir que o empresário se mantenha no centro dos holofotes por quase uma semana, pesquisas de intenção de voto mostram que ele continua atrás de Hillary. Uma sondagem encomendada pela agência de notícias Reuters ao instituto Ipsos indica redução pela metade da diferença entre o republicano e a rival democrata, que era de 15 pontos percentuais na semana passada, mas Trump se mantém em desvantagem. Segundo a sondagem, ele tem 36% de apoio entre o eleitorado americano, contra 43% para Hillary.
Para Richard Crosby, especialista em retórica da Iowa State University, o discurso de Trump marcará a primeira vez que uma ampla parcela dos eleitores vai parar para ouvir o que o candidato tem a dizer. O estudioso observa que ainda não está claro se o republicano manterá o tom agressivo que lhe garantiu a vitória na disputa interna, ou se adotará uma postura mais branda. ;Ele não pode fazer mudanças bruscas de imagem sem afastar parte da base;, avalia. ;Em vez de convencer os eleitores indecisos de que pode se encaixar em um molde mais ;presidencial;, ele precisa convencer de que é hora de um novo molde;, pondera.
Pressão
Enquanto na noite passada o candidato republicano à vice-presidência, Mike Pence, enfrentava pressão para energizar o público com seu discurso, o ex-diretor de campanha de Trump, Corey Lewandowski, admitiu ao jornal The Hill que estava aconselhando doadores de campanha a investir em fundos paralelos ; conhecidos como super-PACs. Em entrevista à rede CBS, porém, o chefe da campanha do milionário, Paul Manafort, demonstrou confiança. ;Este é o partido de Trump, agora. A convergência entre a campanha de Trump e o partido foi perfeita;, insistiu.
Analistas observam que a equipe do empresário ainda precisa trabalhar em estados-chaves, como Flórida e Ohio, se quiser vencer a eleição. O estado que cedia a convenção republicana, no entanto, deve ser um dos principais desafios para o candidato da oposição. Nas primárias do partido, Trump foi derrotado pelo governador John Kasich. O voto dos 66 delegados de Ohio na convenção, na terça-feira, foi proclamado entre aplausos e vaias. Nas duas últimas eleições presidenciais, o Partido Democrata saiu vitorioso no estado.
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