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Democratas querem provar que chapa Hillary-Kaine pode enfrentar Trump

A ex-secretária de Estado é a única aspirante à candidatura presidencial democrata

Agência France-Presse
postado em 24/07/2016 19:38
Filadélfia - Os 4.700 delegados e dirigentes do Partido Democrata inauguram nesta segunda-feira a Convenção Nacional que entronizará a chapa presidencial Hillary Clinton-Tim Kaine com o objetivo de apresentar uma frente unida capaz de contra-atacar a ameaça que representa Donald Trump.

A ex-secretária de Estado é a única aspirante à candidatura presidencial democrata e já tem delegados suficientes para confirmá-la como candidata, mas o processo partidário deixou feridas evidentes que precisam de paciência e habilidade para serem fechadas.

Esaas feridas ficaram à mostra com a divulgação com a divugação de emails que mostram como a condução do partido tentou favorecer Hillary em sua disputa interna com Bernie Sanders. Por causa do escândalo a presidente do partido, Debbie Wasserman Schultz, anunciou neste domingo que renunciará ao cargo ao final da convenção.



Hillary apresentou formalmente Kaine no sábado, em um comício em Miami, e os dois se esforçaram para garantir que a Convenção Nacional Democrata apresentará uma visão do país muito diferente da que se discutiu na Convenção do Partido Republicano, que terminou na quinta passada.

No campo republicano, Trump foi oficializado candidato presidencial tendo como colega de chapa o experiente Mike Pence, governador do estado de Indiana, o fim de uma ruidosa convenção partidária que dedicou boa parte de seu tempo a criticar Hillary.

Com esse antecedente, ela parece disposta a ser o centro de uma convenção dedicada a reconstruir a unidade do partido e, ao mesmo tempo, exibir uma visão capaz de aglutinar eleitores indecisos ou atemorizados pelo discurso de Trump.

Na Convenção Democrata realizada na Filadélfia, o partido levará toda sua artilharia pesada, com uma lista de oradores que inclui até o presidente Barack Obama e o vice-presidente Joe Biden.

No entanto, a unidade do partido certamente exigirá mais que discursos, já que as divisões ficaram em evidência durante as eleições primárias e Clinton precisa com urgência encontrar uma fórmula para atrair o voto dos eleitores mais jovens, seu grande ponto fraco.

Ambiente envenenado

Depois de uma tensa eleição interna que transpareceu enormes divisões, o partido chega à convenção que deve selar a candidatura de Hillary envolta na incerteza e com certo aroma de escândalo.

A eventual reaproximação entre Hillary e o senador Bernie Sanders, que apresentou uma formidável resistência na eleição interna, voltou à tona depois da divulgação de quase 20.000 e-mails de altos dirigentes do partido durante a campanha.

Nesses e-mails fica evidente que verdadeiros pesos-pesados do partido discutiram formas de prejudicar a campanha de Sanders e favorecer Hillary.

Na manhã domingo, a equipe de Wasserman Schultz informou à imprensa sobre sua decisão de retirar seu nome da lista de oradores da Convenção e de não presidir os trabalhos partidários. Pouco mais tarde, diante das pressões generalizadas, Schultz anunciou sua renúncia ao final da convenção.

Já durante a campanha, Sanders pediu publicamente a renúncia de Wasserman-Schultz. Neste domingo, em declarações à emissora CNN, Sanders disse que "não há surpresas" diante do escândalo dos e-mails divulgados. "Por isso eu havia pedido a renúncia de Wasserman-Schultz há vários meses", acrescentou.

No entanto, um porta-voz da campanha de Clinton disse à mesma emissora CNN que "especialistas do partido" suspeitavam que hackers russos tivesse invadido os servidores do Comitê Nacional Democrata e agora estariam divulgando esses e-mails para ajudar na eleição de Trump.

Unidade necessária

Alheia à nova polêmica, Hillary espera poder unificar os grupos democratas com a presença de Kaine, um discreto, mas eficiente senador de 58 anos que ajudará a cobrir algumas necessidades: é católico de origem jesuíta, fala espanhol fluentemente e tem experiência política, pois já foi prefeito e governador.

Em uma eleição onde tanto Clinton como Trump tem níveis extraordinariamente elevados de rejeição - nos dois casos, claramente superior a 50% - ter um candidato à vice-presidência com uma sólida biografia política e capacidade de construir consensos é um recurso-chave para ganhar a eleição.

Mas depois de uma disputa interna incrivelmente desgastante, diversos setores democratas esperavam que Hillary Clinton optasse por um representante da ala mais à esquerda do partido, para criar uma ponte com o eleitorado jovem que optou pelo senador Bernie Sanders, seu adversário nas primárias.

Além disso, Kaine foi presidente do Comitê Nacional Democrata e por isso os eleitores mais jovens o veem como um homem ligado ao establishment partidário, precisamente um dos objetos de irritação entre os jovens eleitores.

Por essa razão, delegados escolhidos nas primárias para representar Sanders não descartam dar continuidade ao movimento "Bernie ou nada", que inclusive tem agendado atos de protesto na Filadélfia durante a Convenção Nacional onde espera mobilizar milhares de pessoas.

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