Cracóvia, Polónia - O papa Francisco inicia nesta quarta-feira (27/7) sua primeira visita à Polônia, onde é esperado pela multidão festiva da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), com quem falará sobre o acolhimento de refugiados, um tema que incomoda o episcopado polonês. Os recentes ataques na França e na Alemanha devem ofuscar a festa dos jovens católicos, que estarão submetidos a rígidas medidas de segurança.
O pontífice pisa pela primeira vez na terra de João Paulo II e visitará também o santuário mariano de Czestochowa e o campo de extermínio nazista de Auschwitz. Lá, rezará em silêncio pelos 1,1 milhão de pessoas, entre elas um milhão de judeus, que foram exterminados pela Alemanha nazista, e se reunirá com um grupo de sobreviventes. Também rezará na cela de São Maximiliano Kolbe, o religioso franciscano que ofereceu sua vida para salvar um pai de família.
- JMJ, criação de João Paulo II -
A JMJ, conhecida como o "Woodstock" dos católicos, foi criada por João Paulo II em 1986, e neste ano é celebrada em Cracóvia, antiga capital real da Polônia. A edição deste ano será dedicada ao tema da misericórdia, que, para o Papa, passa também pelo acolhimento ao forasteiro, ao refugiado, um drama que atualmente sacode a Europa.
[SAIBAMAIS]Para Francisco, filho de migrantes italianos, trata-se do drama que marca seu pontificado, a chegada de milhares de migrantes que fogem da fome e da guerra na África e no Oriente Médio.Sua posição sempre foi clara: acolher e integrar. "Todos somos migrantes", declarou quando visitou a ilha grega de Lesbos, símbolo desse drama.
Como exemplo, voltou para o Vaticano levando três famílias de muçulmanos e pediu a todas as paróquias no mundo que acolham ao menos uma família de refugiados.
- Polônia se nega a aceitar refugiados -
Apesar dos pedidos do Papa e das diretrizes da União Europeia, boa parte da sociedade polonesa, assim como suas autoridades, se negam a receber refugiados. O governo conservador da primeira-ministra Beata Szydlo, profundamente católico, não quer que a Polônia receba migrantes porque os consideram uma ameaça para a segurança.
Os bispos poloneses, já preocupados com a abertura do papa sobre temas como o acesso à comunhão dos divorciados que voltam a se casar, também mantêm uma certa prudência."O Papa certamente falará sobre os refugiados", comentou o núncio apostólico de Varsóvia, o arcebispo Celestino Migliore. A estada de Francisco em Cracóvia, de 27 a 31 de julho, alude inevitavelmente a João Paulo II, o primeiro papa polonês da história, que foi arcebispo desta cidade antes de chegar ao Trono de Pedro.
Quando o Papa argentino aparecer na janela da sede do arcebispado para saudar os jovens reunidos, repetirá um gesto típico de Karol Wojtyla, venerado em seu país. Fiel a seu estilo informal e sem temer por sua segurança, Francisco também visitará a quinta Blonia, um enorme parque no centro da cidade para a cerimônia de boas-vindas.
- Break dance -
Milhares de jovens de todo o mundo invadiram a cidade, onde um exército de voluntários e famílias os receberam com entusiasmo. O programa combina concertos, debates, visitas e passeios, além de partidas de futebol e até concursos de break-dance.
As originais "Maratonas da Misericórdia" garantirão a realização da limpeza de uma residência para cegos e a preparação de alimentos para pessoas sem teto e indigentes. A JMJ será concluída com outra maratona, já que os jovens acamparão durante a noite de sábado no campo de Brzegi, a 15 km de Cracóvia, para meditar sob as estrelas sobre "a fé e a fraternidade", como pediu o Papa em uma videomensagem.
No domingo, Francisco presidirá, ante a multidão de jovens, a missa de encerramento, quando anunciará a edição da próxima JMJ, provavelmente em um país da América Latina.A edição anterior foi realizada no Rio de Janeiro. Os organizadores calculam uma presença de dois milhões de peregrinos, mas oficialmente só se inscreveram 400.000 jovens. O temor de atentados pode ter influenciado os jovens, embora, normalmente, muitos apareçam sem estar inscritos.