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Golpe é chance de salvar Turquia da divisão, diz líder opositor

Kilicdaroglu pediu às autoridades que respeitem o Estado de direito, diante das dezenas de ordens de captura lançadas contra jornalistas à detenção de mais de 15.000 pessoas

Agência France-Presse
postado em 27/07/2016 17:01
"O golpe frustrado representa uma oportunidade única de pôr fim à perigosa polarização da vida política turca", declarou à AFP nesta quarta-feira o dirigente do principal partido de oposição após um encontro com o presidente Recep Tayyip Erdogan. "Existe uma real polarização na Turquia e a Turquia tem que ser salva dessa polarização", declarou o chefe do Partido Republicano do Povo (CHP), Kemal Kilicdaroglu, em entrevista com a AFP na sede-geral do partido em Ancara.

[SAIBAMAIS]Turcos de diferentes afiliações políticas saíram massivamente às ruas na madrugada de 15 para 16 de julho com o objetivo de expressar sua oposição aos golpistas, uma excepcional manifestação de unidade em um país dividido. "Espero que tiremos todas as lições destes acontecimentos, inclusive os que governam o país", acrescentou em referência ao partido islamita-conservador AKP do presidente Erdogan.



Após ter rejeitado colocar seus pés "no palácio ilegal" do presidente turco, a quem chamou de "ditador de araque", o chefe da oposição deu uma virada de 180; ao aceitar falar com ele na segunda-feira (25/7), em Ancara, para trabalhar pela unidade nacional.

"Criticarei Erdogan e não deixarei de criticá-lo. Fui a seu palácio para retomar a normalidade na Turquia, pela segurança do país e para que estejamos seguros de que não voltará a acontecer um golpe de Estado", disse. Se ambas as partes têm a "intenção de ter relações mais calorosas", isso deve traduzir-se em fatos concretos.

Mudar de imagem

Segundo uma autoridade turca que preferiu manter sua identidade preservada, o chefe de Estado pensaria em retirar os processos por difamação apresentados contra os líderes da oposição. Antes da tentativa de golpe de Estado, a polarização na Turquia alcançou forte intensidade, com partidos políticos que se insultavam constantemente e um forte protagonismo em torno da personalidade do presidente Erdogan, tão amado quanto odiado.

Além disso, a retomada do conflito com os curdos no verão de 2015, uma importante minoria muito presente no sudeste do país, reavivou as tensões. Os alevitas, minoria xiita em um país majoritariamente sunita, também se queixam de discriminação. "Sempre houve uma polarização na política turca, pois ela estava centrada ao redor da religião e da etnia, mas devemos mudar a imagem", insiste Kilicdaroglu.

O CHP foi fundado em 1923 pelo líder turco Mustafa Kemal Atatürk, que se considera o guardião da laicidade e da orientação pró-ocidental que constituíram os pilares da república turca. Mas diante do aumento do poder do partido islamita-conservador do presidente Erdogan, o CHP perdeu terreno.

Kilicdaroglu conseguiu estabilizar o partido em 2010, mas sua formação conquistou menos de 25% dos votos nas legislativas de 2015.

Não ser como os golpistas

Kilicdaroglu pediu às autoridades que respeitem o Estado de direito, diante das dezenas de ordens de captura lançadas contra jornalistas à detenção de mais de 15.000 pessoas.

"Foi um erro fazer um golpe de Estado, mas um país que acredita no Estado de direito deve advogar a favor do Estado de direito inclusive para os golpistas", disse. "Prender jornalistas, colocar pessoas em prisões provisórias, encher as cadeias com milhares de pessoas dizendo que ;isso não tem importância;, não é certo", acrescentou o líder opositor. "Se tratamos mal os golpistas, então não há diferença entre eles e nós", concluiu.

Hoje
A Turquia fechou 45 jornais e 16 emissoras de televisão e destituiu cento e quarenta e nove generais e almirantes por suposta participação no golpe fracassado de 15 de julho na Turquia, anunciou nesta quarta-feira (27/7) um alto funcionário do governo. "Foram destituídos por sua cumplicidade na tentativa de golpe de Estado", declarou a fonte, destacando que se tratam de 87 oficiais superiores do Exército, 30 da Aeronáutica e 32 da Marinha. Além disso, conforme publicação no Diário Oficial, também foram fechadas três agências de notícias, 23 estações de rádio, 15 revistas e 29 editoras.

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