A publicação dos nomes e das fotos dos autores dos atentados contribui para sua glorificação? O debate, lançado por políticos e intelectuais, ganhou amplitude na França após a decisão de vários meios de comunicação em deixar de divulgá-los.
O jornal Le Monde não publicará mais fotografias dos autores de matanças "para evitar eventuais efeitos de glorificação póstuma", anunciou seu diretor, Jérôme Fenoglio, em um editorial.
A emissora BFMTV fará o mesmo, cujo diretor de redação, Hervé Béroud, declarou à AFP que "a fotografia pode colocar no mesmo nível as vítimas e os terroristas".
A emissora de rádio Europe 1, por sua vez, decidiu deixar de citar o nome dos autores dos atentados, enquanto o jornal católico La Croix não publicará suas fotos, nem seus sobrenomes. A rádio RFI e a emissora de televisão France 24 deixaram de divulgar as fotos e serão "extremamente parcos na utilização dos nomes".
"Muitos atos são cometidos por indivíduos psicologicamente frágeis e a glória midiática é uma incitação. Há uma dimensão preventiva no fato de limitar sua exposição midiática", considerou o psicoanalista Fethi Benslama, partidário de que se guarde o anonimato dos autores de atentados.
75.000 assinaturas
"A guerra contra o terrorismo é midiática e psicológica. Um dos motivos mais importantes daqueles que cometem atentados é se tornarem conhecidos e reconhecidos publicamente. Deixam pistas antes de sua morte e fantasiam (em alcançar) um reconhecimento mundial", explicou Benslama à AFP.
Uma postura compartilhada por Michael Jetter, investigador da universidade de Western Australia, especialista em vínculos entre o terrorismo e a mídia. Segundo Jetter, o nível de cobertura midiática tem um impacto em tais atos. Comparando-o com o tratamento de suicídios dado pelos meios de comunicação, o investigador adverte de um possível "efeito de imitação".
A ideia também encontrou eco na opinião pública francesa: uma petição reclamando o "anonimato dos terroristas na mídia" arrecadou mais de 75.000 assinaturas nesta quarta-feira (27), uma semana depois de seu lançamento.
Não renunciar em informar
A secretária de Estado francesa encarregada da Ajuda às Vítimas, Juliette Méadel, anunciou recentemente que proporia à mídia, a Google, Amazon, Facebook e Apple que se "coloquem de acordo em uma ética" e tomem precauções "ao assinalar as vítimas e também a forma em que são informados os autores".
O Conselho Superior do Audiovisual, instância que controla os meios de comunicação na França, trabalha em um código de boas maneiras "para a cobertura audiovisual de atos terroristas".
Neste debate também deve-se "tomar cuidado para não deixar de informar", avisou, entretanto, Hervé Béroud. Por isso, a BFMTV continuará divulgando o nome dos autores dos atentados.
Para o jornal progressista Libération, "publicar as fotografias dos terroristas e glorificá-los não é o mesmo. A Dabiq (revista do grupo extremista Estado Islâmico) glorifica", destacou seu vice-diretor Johan Hufnagel, embora tenha reconhecido que há um debate "permanente" a respeito disso.
Na emissora de televisão TF1, a diretora-geral adjunta de informação, Catherine Nayl, falou porque o tratamento é feito "caso a caso", buscando "o meio termo".
A Agence France-Presse considerou que "deve manter-se o valor informativo de um texto ou de uma imagem: neste assunto, o nome e a fotografia de um autor de um atentado constituem uma informação que não queremos privar nossos 5.000 cliente em todo o mundo, que podem decidir se vão utilizá-las ou não", explicou a diretora de informação, Mich;le Léridon.