Filadélfia, Estados Unidos - Hillary Clinton lançou as linhas gerais de seu programa para chegar à Casa Branca com uma mensagem de otimismo no futuro e promessas de crescimento econômico, em contraste com o panorama fúnebre apresentado pelo republicano Donald Trump.
Ao fim de quatro dias da Convenção Nacional Democrata, Hillary se tornou na noite de quinta-feira a primeira mulher candidata à presidência por um dos principais partidos em toda a história política dos Estados Unidos. Mesmo seu adversário na disputa interna, o senador Bernie Sanders, saudou a "façanha histórica" de Hillary ao se tornar a candidata democrata para as eleições de novembro.
Em seu discurso de aceitação da candidatura, Clinton prometeu um governo no qual a prioridade absoluta estará na recuperação econômica, especialmente dos setores mais desfavorecidos. Hillary não escondeu que "há muito a ser feito" e ressaltou que "existe muita desigualdade, pouca mobilidade social, muita paralisia em Washington e várias ameaças tanto internas quanto no exterior".
[SAIBAMAIS]No entanto, acrescentou, os Estados Unidos têm "as pessoas mais dinâmicas e diversas do mundo". "Temos os jovens mais tolerantes e generosos que já existiram", assim como "valores duradouros: liberdade e igualdade, justiça e oportunidade". Por isso, disse, "não deixem que ninguém lhes diga que nosso país está fragilizado. Não estamos".
Clinton fez um chamado para "olharmos para o futuro com coragem e confiança. Vamos construir um melhor amanhã para nossas crianças e nosso país. E quando fizermos isso, os Estados Unidos serão maiores do que nunca". Esta frase é uma referência direta ao lema principal da campanha de Trump ("Vamos fazer os Estados Unidos grandes de novo"), e deixa em evidência a tentativa de se distanciar do devastador diagnóstico formulado pelo candidato republicano há apenas uma semana na Convenção Nacional do Partido Republicano em Ohio.
Cenário lúgubre
Em seu discurso de aceitação da candidatura republicana, Trump traçou um panorama desolador da situação do país. Os americanos, disse, não apenas "enfrentavam um desastre econômico, mas precisavam viver uma humilhação internacional depois da outra".
Ao analisar o desempenho de Hillary como secretária de Estado, Trump não economizou nas palavras. "Este é o legado de Hillary Clinton: morte, destruição e fragilidade". Internamente, o panorama projetado por Trump não era muito melhor: "Um total de 180 mil imigrantes ilegais com antecedentes criminais, cuja deportação já foi determinada por nosso país, perambulam livres nesta mesma noite para ameaçar cidadãos pacíficos".
Em resposta a esta visão, Hillary disse que Trump "quer que tenhamos medo do futuro e tenhamos medo uns dos outros", acrescentando: "não temos medo. Vamos crescer ante o desafio, como sempre fizemos".
Cerrando fileiras
Mas, além de delinear uma estratégia baseada no otimismo, Clinton também conquistou durante a Convenção Nacional Democrata uma vitória dentro do partido. Vencedora de uma disputa interna apertada com o senador Sanders, Hillary conseguiu na Convenção realizada na Filadélfia unificar os democratas ao redor de sua candidatura, buscando coroar com a Casa Branca uma trajetória de quatro décadas na vida pública.
A Convenção Democrata começou à sombra de um escândalo pela divulgação de e-mails de dirigentes, caso que levou à renúncia da presidente do comitê nacional do partido, Debbie Wasserman Schultz. No primeiro dia da Convenção, a cada vez que o nome de Hillary era pronunciado a audiência se convertia em um verdadeiro festival de vaias, gritos de desaprovação e de apoio, expondo a divisão interna provocada pelo confronto com Sanders.
Neste primeiro dia, o partido colocou em evidência a vitalidade de sua militância, mas deixou dúvidas sobre sua capacidade para superar tensões e cerrar fileiras. No segundo dia, no entanto, o próprio Sanders se empenhou em erguer pontes em favor da unidade, e no momento da votação ele mesmo apresentou a moção de declarar Hillary vencedora por aclamação.
Para coroar esta realidade, o partido levou ao palco pesos pesados para apoiar a candidata, incluindo o presidente Barack Obama, o vice-presidente Joe Biden, o ex-presidente Jimmy Carter (através de um vídeo) e, obviamente, o ex-presidente Bill Clinton, marido de Hillary. Desta forma, Hillary Clinton acabou de forma definitiva com a disputa interna, unificou a direção partidária em apoio a sua candidatura e pavimentou o caminho para colocar a máquina democrata em funcionamento para as eleições de novembro.