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Papa Francisco faz visita histórica a Auschwitz, na Polônia

Além disso, ele se reuniu com sobreviventes e pede que Deus "perdoe tanta crueldade"

Rodrigo Craveiro
postado em 30/07/2016 08:00

O pontífice atravessa os portões do campo de extermínio, em Oswiecim, na Polônia: antes de Francisco, apenas João Paulo II e Bento XVI foram ao local


Sozinho e a pé, o papa Francisco atravessou o portão de ferro erigido sob o letreiro com a infame frase ;Arbeit macht frei; (;O trabalho liberta;, em alemão). Durante todo o tempo, manteve um silêncio de pesar, de respeito e de dor, enquanto caminhava pelos pavilhões do inferno. Preferiu não fazer discursos. Em vez de pronunciamentos, o pontífice escreveu, em espanhol, apenas uma mensagem no Livro de Honra: ;Deus, tenha misericórdia de seu povo. Deus, perdoe tanta crueldade;. Assinou ;Francisco; e datou. As palavras, eternizadas no papel, resumiram toda a intensidade da terceira visita de um papa ao campo de extermínio de Auschwitz ; o local em que 1,1 milhão de prisioneiros, a imensa maioria de judeus, morreram nas mãos do nazismo, na Segunda Guerra Mundial.

Entre os pavilhões 10 e 11, Francisco se reuniu com 12 sobreviventes. Um deles entregou-lhe uma foto em preto e branco, na qual trajava o uniforme de prisioneiro, e mostrou-lhe onde aparecia na imagem. O líder católico cumprimentou cada um deles, se curvou para beijá-los no rosto e lhes deu uma lembrança. ;Foi um dia muito emotivo para o meu pai. Um dia repleto de emoções, com lágrimas em seus olhos. Eu estava lá com ele. Todos os sobreviventes receberam uma medalha papal feita especialmente para a ocasião;, contou ao Correio, horas depois do encontro, o engenheiro Marek Fros, filho de Alojzy Fros, o ex-prisioneiro de número 136223, hoje com 99 anos ; a família prepara uma grande festa para o centenário, em 5 de dezembro. ;O papa beijou o meu pai e lhe desejou saúde. No meu caso, o que senti foi emoção, seguida de orgulho.;

Por sua vez, Alojzy falou à agência France-Presse (AFP) que ;não se deve falar tanto do passado;. ;Não podemos voltar a viver este horror. Estão ocorrendo, neste momento, coisas terríveis, como o assassinato do padre dentro de uma igreja na França;, comentou, em alusão ao religioso degolado por jihadistas em Saint-Etienne-du-Rouvray. ;Fiquei emocionada em ver o papa. Queria me ajoelhar diante dele, mas me abraçou, me deu dois beijos. Foi o maior presente que a vida me deu por tudo o que vivi;, disse à France-Presse a católica Janina Iwanska, de 86 anos. ;Francisco é muito bom. Não devemos deixar que nos matem. O amor pelo próximo é uma coisa, mas é necessário o castigo pelos pecados;, desabafou à AFP Walentyna Nikodem, 84.

Após o encontro com os sobreviventes, Francisco caminhou até o chamado Muro da Morte, diante do qual milhares de pessoas, principalmente prisioneiros políticos poloneses, foram fuziladas pelas tropas de Adolf Hitler. Ali, o pontífice argentino orou e acendeu uma vela branca. O papa, então, repetiu o gesto dos antecessores João Paulo II e Bento XVI e ingressou na antiga cela do padre Maximiliano Maria Kolbe.

Francisco percorreu, em um pequeno carro, o campo de Auschwitz-Birkenau e se deteve no local em que os trens chegavam abarrotados de judeus e onde era feita a primeira seleção para a morte na câmara de gás, por meio de médicos, como Josef Mengele. A visita terminou entre as ruínas dos fornos crematórios, com uma reunião com alguns dos 6.620 cristãos poloneses que ajudaram a salvar judeus durante a guerra. Com um leve sorriso, Francisco ofertou a eles um rosário.

Aos 82 anos, Eva Mozes Kor, ex-prisioneira de número A-7063 e ex-cobaia de Mengele, disse ao Correio que ;Auschwitz é um símbolo do triunfo do mal sobre o bem, durante a era de horrores do nazismo;. ;Hoje, os nazistas não existem mais. O papa é um símbolo do bem. A sua visita nos mostra que devemos nos lembrar, e aprender, que o bem sempre triunfa sobre o mal;, admitiu, por e-mail.

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